Reinado da mulata
brasileira no Japão
A avenida Sangoion - 354 - estava iluminada com lâmpadas coloridas e nela resplandecia um clima de festa, o que na verdade ocorria. Era noite de matsuri – festival em que são montadas barracas e onde toda a população da cidade comparece para participar da festa - e ela tinha, pendurado em suas árvores e postes, lanternas exóticas que a enfeitam.
Os japoneses vestidos de maneira típica – trajando kimonos elegantes e suas mulheres em suas vestimentas originais e coloridas - em cima de carros alegóricos tocavam tambores e flautas para acompanhar ao povo que cantava canções tradicionais japonesas. Era uma noite muito especial e festiva para eles e os estrangeiros que moravam na cidade também participam. Os brasileiros que moravam naquela cidade aproveitavam aquele festival de verão que acontecia na avenida para nele festejar o seu carnaval, do qual tanto sentiam falta, mesmo fora de época.
Alguns deles, que viviam lá há anos, tinham se reunido e fundado uma escola de samba. Ela tinha poucos componentes, mas o samba acontecia e dominava onde a cultura e os costumes eram tão diferentes.
Mulheres belas vestidas com muito pouca roupa - algumas delas japonesas que participam da festa brasileira - e homens cobertos com fantasias cheias de cores mostravam aos japoneses a alegria do brasileiro quando samba numa avenida, deixando-os encantados.
A mulata, uma trabalhadora dekassegui - trabalhador estrangeiro contratado para trabalhar no Japão - que durante o ano inteiro tinha dado o seu sangue em trabalhos sujos e pesados em fábricas, onde foi tratada pelos japoneses como máquina e não como um ser humano, era ali naquela avenida vista por todos eles como uma rainha. Rainha da beleza, do gingado, da alegria e do amor. Sim, do amor, pois seminua como se apresentava mostrava com clareza toda a perfeição da sensualidade na mulher ao requebrar o seu corpo. Deixava aqueles homens, de olhos puxados, sedentos e fazia com que um sentimento forte de admiração surgisse neles.
No outro dia pela manhã uma equipe da prefeitura limparia a avenida e recolheriam as garrafas e latas de cervejas vazias jogadas por ela. Não deixariam vestígios da festa que havia acontecido e os trabalhadores brasileiros iriam bem cedinho para as fábricas em que trabalhavam. A mulata voltaria a sua luta árdua para ganhar o seu sustento e tentaria economizar um pouco do que ganharia para poder um dia voltar um dia a sua terra. Mesmo que isso demorasse anos ela não deixaria de ser brasileira, de amar o samba e enquanto permanecesse naquela terra longínqua seria vista e tratada como rainha todo verão, ao menos por uma noite.
CARLOS CUNHA
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CARLOS CUNHA/o poeta sem limites
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