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Contos-->O Nordestino -- 15/04/2004 - 09:26 (José Francisco Bessa da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,

Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz


A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,

Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal

Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além

Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem

Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão

Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"

Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José

Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé

Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer

Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer

Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar

Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar

E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também

Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem


Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar

A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natal

O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar

Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar

No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr

Tão triste, coitado
Falando saudoso
Com seu filho choroso
Exclama a dizer

De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?

Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gado?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer

E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"

Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou

E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul

O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul

Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão

Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão

Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar

Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar

Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir

Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair

Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão

O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposta à garoa
A lama e o bau

Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul


Patativa de Assaré
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