Ambos sentados à mesa de um restaurante. Paulo e Maria. Um de frente para o outro. Um duelo? Ele com as mãos pousadas sobre a mesa. Dedos entrelaçados a se movimentar com rapidez. Ela com as mãos metidas nos cabelos castanhos compridos. Afagos e maus tratos.
Dentes rígidos a se apertar. Maria os mostra. Brancos, afiados. Um leão rugindo? A boca de Paulo está seca. Ele passa a língua nos lábios para umedece-los, mas está sem saliva. Ele engole a seco. Ela também. A água ainda não veio. A refeição também não. Que restaurante demorado!
Na testa de Paulo, uma gota de suor, que nasce em seus cabelos oleosos, ensaia uma aparição, mas logo é interditada pelo lenço branco do rapaz. Maria nem repara. Neste momento, está muito ocupada contemplando seu reflexo no espelhinho de maquiagem portátil, enquanto retoca o batom.
O silêncio. A mesa do casal é uma exceção se comparada ao burburinho que preenche todos os espaços do restaurante. Todos, menos este. Aqui só se ouve o tica tac do relógio de Maria e o barulho das solas de Paulo batucando no assoalho do restaurante. Nada mais.
Maria olha atentamente para o rosto de Paulo. Olhos amendoados, grandes. Pupilas dilatadas. Paulo retribui o olhar. Semicerrado. Agudo. Tempestuoso. O queixo pontudo dele aponta para a testa franzida dela. Os dois parecem querer dizer alguma coisa. Nada se diz.
Os lábios de Paulo se mexem em câmera lenta como se quisessem balbuciar algo. Os olhos de Maria vibram possuídos como se estivessem pensando em uma reposta para dar. Uma resposta para uma pergunta que nem chega a ser feita, pois o garçom lhes interrompe trazendo o pedido dos dois.
No mais, é só o mastigar e o barulho do estômago digerindo o alimento.