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Contos-->Pueril -- 28/04/2004 - 15:37 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No escritório da mãe, uma menina de sete anos, brinca. Luciana é o nome dela.
Sentada no piso de tacos recém polidos Luciana conta: um, dois, três, quatro, cinco, até onde seus conhecimentos de menina de primeira série permitem chegar. Uma brincadeira solitária e aparentemente sem graça.
Luciana é uma menina solitária e precisa inventar seu próprio divertimento.
Sozinha, os jogos corriqueiros perdem o encanto e Luciana necessita que aconteçam coisas novas. Só assim consegue entreter-se com satisfação.
Qualquer acontecimento, diferente ou não, que ocorra na rotina diária da casa, vira passatempo nas mãos de Luciana. Seja o barulho do liquidificador, seja o movimento compassado do espanador de pó nas mãos da empregada doméstica.
Ela está sempre disposta a prestar atenção nos pequenos detalhes. Um pequeno som ou um leve deslocamento de papéis, tudo se torna ponto de partida para suas aventuras.
Luciana dificilmente assiste TV, embora tenha sempre uma ligada por perto. O que lhe interessa são os sons, as falas dos personagens, tudo que lhe faça viajar para outro espaço.
Apesar da pouca idade, Luciana não se surpreende mais com aquilo que toda a criança deveria se surpreender. Esta fase se foi logo com os primeiros anos. O que lhe atrai e, faz seus olhos brilharem, são as coisas banais e de pouca importância que passam por nossas vistas sem darmos muita atenção.
Agora, por exemplo, Luciana brinca de contar: um dois três, quatro cinco seis, até onde seus conhecimentos de primeira série conseguirem chegar.
Esta brincadeira nova começou a poucos minutos, quando Luciana, ainda sonolenta, ouviu um barulho forte que vinha do escritório da mãe.
Arrastando seus pés diminutos até o lugar, Luciana achou um frasco de remédios caídos no chão. Ao redor, várias pílulas azuis esparramadas.
Luciana adorou as cores e se pôs a contar: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, até onde seus conhecimentos de primeira série conseguissem chegar. Mas as cápsulas eram muitas e Luciana ficou nessa brincadeira a noite inteira, nem reparou que ao seu lado, sua mãe dormia, estatelada, com a cara enfiada no piso de tacos recém polidos.

Bruno Moreira
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