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Contos-->Um Mergulho Pela Boca do Inferno -- 09/05/2004 - 00:53 (Renato Rosatti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todas as noites era sempre o mesmo pesadelo. Eu já não estava aguentando mais aquela tortura desesperadora toda vez que fechava os olhos para sonhar.
Eu via o horror se materializar em sua forma mais brutal e avassaladora, embriagando-me com o miasma pútrido que emana das profundezas mais obscuras de um universo além da compreensão humana.
Eu entrava em contato com dimensões paralelas à realidade conhecida, levando-me a atingir níveis inexplorados de pura insanidade, onde civilizações não humanas reinavam poderosas em seus impérios de devastação eterna, e as quais aguardavam apenas o momento oportuno para retomarem seu poder maligno no planeta.
Eu descobria a identidade soberana do mal em seu estado absoluto, a entidade pestilenta que canalizava toda a dor e depressão da humanidade em decadência, alimentando suas entranhas com pilhas de cadáveres decompostos na mais obscena putrefação da carne.
Eu ouvia o eco destruidor dos lamentos agonizantes e gritos de tortura de vítimas implorando por clemência, além das blasfêmias guturais de um exército de demônios ferozes aguardando o confronto final.
Eu juntava-me à imensidão de criaturas bizarras, bestas sanguinolentas, seres mutantes leprosos e disformes que vagavam e rastejavam pelo lodo podre dos malditos corredores de um complexo labirinto rumo ao infinito.
Eu sentia a incomensurável dor profana de meu corpo sendo dilacerado por garras amaldiçoadas de feras indizíveis, prontas para degustar minhas vísceras num banquete de carnificina.
Quando acordava, sempre molhado de suor e com o corpo dolorido, sentia que minha mente estava gradualmente se deteriorando com o horror em estado puro e absoluto de meus pesadelos, consumindo minhas energias e transformando para cada vez mais tênue a linha que separava a razão da insanidade.
Até o dia em que ao despertar de mais uma viagem onírica pelo vale das sombras, um imenso buraco se abriu no chão e uma voz gutural capaz de estremecer os mais fortes alicerces da raça humana, vociferou com um ódio incomensurável as últimas palavras que ouvi em minha existência:
“Agora você já está preparado para juntar-se a nós. E mergulhar pela Boca do Inferno...”
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