O MILAGRE
Era uma vez um menino pobre que não tinha onde morar. Seu pai, ele nunca soube quem era. Sua mãe o abandonou quando ele tinha cinco anos. Certo dia ele deitou ao lado da mãe sob a marquise de uma loja para dormir e, quando acordou no outro dia, a mãe não estava mais.
Passou meses procurando a mãe. Todas as noites dormia com os olhos escorrendo lágrimas por saudade dela. Só não morrera de fome porque um comerciante o dava um prato de comida todos os dias. E aquela era a sua única refeição.
Certo dia ele teve um sonho. Sonhou que estava atravessando uma grande ponte e, ao olhar para o lado, via sua mãe. Acordou assustado e ficou com aquele sonho na cabeça o resto do dia. Interrogava-se onde poderia ser aquele lugar. Mas não se lembrava de tê-lo visto alguma vez.
Os dias passaram e aquele sonho ficou no esquecimento.
Em meados de setembro, um outro colega de rua o convidou para ir para outra cidade. Já estavam cansados de sofrer naquele lugar e achavam que se fossem para outra cidade, a vida deles poderia ser diferente.
Então ele partiu com o colega. Ao anoitecer, entraram na carroceria de um caminhão e, como folhas ao vento, deixaram que o caminhão os levasse.
Andaram toda uma noite. E quando, ao amanhecer, o caminhão parou num posto de gasolina na periferia duma cidade, eles pularam do veículo e saíram correndo.
Durante dias, perambularam pela ruas daquele lugar. Com muito custo conseguiam alguma coisa para comer e um local seguro para dormir.
Numa tarde, avistaram uma grande catedral. E daquela catedral partia um grande viaduto que passava sobre casas. Ao se aproximar mais, ele reconheceu aquele lugar. Era o que havia visto no sonho.
Depois de andaram muito, conseguiram chegar à entrada da catedral, de onde partia o viaduto. Havia um aglomerado muito grande de possas naquele dia doze de outubro. Pessoas de todas as partes do país vinham visitar a Santa padroeira.
Com dificuldade, no meio daquele empurra-empurra de romeiros, ele consegui chegar à entrada do viaduto. E aí, aos poucos, ele foi sendo levado pela multidão. Alguns iam numa direção e outros na direção contrária.
Durante minutos, ele caminhou olhando para todos os lados, a procura de alguém. Mas a medida que o tempo passava, suas esperanças iam se dissipando. Ele sabia que seria quase impossível encontrar a mãe no meio daquela multidão. E além do mais, o que estaria ela fazendo ali?
O amigo ainda por cima desencorajava-o, dizendo que tudo não passava de coisas da cabeça dele. E aos poucos ele foi aceitando os fatos.
Quase do outro lado ele desistiu da procura. Estavam sedentos e famintos; e só pensavam em arranjar alguma coisa para matar a fome.
Estava ele conversando com o amigo, quando olhou para o lado, e vindo na direção contrária estava uma pessoa que ele conhecia muito bem: sua mãe.
Ele deu um grito e saiu empurrando todo mundo. A mãe também o reconheceu de imediato. Assustadas, as pessoas abriram a passagem, e finalmente o filho pôde reencontrar a mãe.
Houve muita emoção e aquele acontecido causou consternação nas pessoas que se inteiravam da narrativa.
A mãe contara que deixara o filho dormindo e fora buscar alguma coisa para lhe dar de comer. Ao tentar roubar um pãozinho numa padaria, acabara presa. Passou dois dias na prisão e, quando tentou reencontrar o filho, não mais o achou. Procurou por dias a fio.
Um dia encontrou trabalho na casa duma senhora bondosa que também lhe dava moradia. E naquele dia mesmo fez uma promessa: fazer uma peregrinação e pedir de joelhos diante da imagem da santa para que seu filho fosse encontrado.
Ao ouvir aquele relato, as pessoas não tiveram dúvida: aquilo só poderia ser um milagre.
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