Certa noite, no barulho da chuva que caia no telhado, me acordei.
E, tirando-me a calma e o sono, torrentes de pensamentos vinham a minha mente, reclamando do meu silêncio, da coragem que escondi, do homem moribundo que me tornei.
Olhei para dentro de mim, vi o homem e a fera, a vida que é bela, e a necessidade novamente de desafiar.
Depois, eu triste, envergonhado, relutei com o pobre ideal que guardei...
O que me faltou afinal, à última ilusão?
As tempestades passam e deixam marcas, o caminho já não é o de antes, e eu não sou mais o mesmo.
Me encontro num mar sem ondas, num grande intervalo, na ânsia de ultrapassar o vento.
Estou dúbio se deixo a cruz que carrego na primeira esquina, ou se tento esquecê-la por algum tempo, porque tal prova de lealdade que criei não merece as últimas gotas dos meus sonhos.
No momento, o meu passatempo é procurar, e talvez encontrar os que olham a vida com mais humildade, jóia profunda, e quem sabe eu possa me encontrar outra vez.
O homem e a fera não estão mortos, estão num leve sono passageiro, espiando a vida e a morte, esperando sem saberem o momento que está por vir.