Contornando a esquina, alucinado, surge o Voyage azul. Em alta velocidade percorre alguns metros da avenida excepcionalmente deserta até frear súbito, rente ao meio fio. Silêncio. Minutos depois, a porta do passageiro se abre e de lá despenca um homem, que como um cobra rasteja até a calçada.
Senta-se com a cabeça entre as pernas. Pasmo. Sem movimento. Permanece assim durante uma eternidade. Talvez chore. Talvez durma. É impossível saber. Pedestres, que começam a surgir sabe-se lá de onde, tentam, mas não conseguem decifrar o enigma: um homem e um carro, aparentemente, acidentados; o pára-choque destroçado e o vidro em pedaços são as pistas do que pode ter acontecido antes.
A madrugada vira manhã e o sol timidamente toma o seu lugar na imensidão azul. O homem continua em seu estado original; o carro lhe faz companhia. De repente, o som de sirene de uma ambulância fantasma rasga o silêncio sepulcral daquele começo de dia.
Por Bruno Moreira