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Contos-->Cigana -- 22/08/2004 - 05:05 (Andre Luis Aquino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quase tudo que a humanidade inventou parece ter sido para aprisioná-la, como se a liberdade e o desejo fossem proibidos (se algumas religiões pudessem elas castrariam seus sacerdotes), até essas linhas que escrevo parecem presas às regras da sintática, minhas idéias tem que concordar com a concordância nominal ou verbal, não que eu não goste das coisas certas, mas a beleza do verbo termina nas garras da gramática, mas não faz mal, meus substantivos ainda são fortes o suficiente para fazerem seus estragos.
A expressão humana mais livre é o pensamento, bilhões e bilhões de neurônios a nossa disposição, quase tantos quanto estrelas que existem no firmamento, em nosso pensamento nada nos impede, segura ou interrompe, podem até tomar o meu corpo, mas nunca terão a minha alma, posso não ser dono da minha vida ou destino, mas no meu pensamento sou eu quem reina(e não tenho medo do que penso).
Viver é sangrar sem parar, é ser estrela perdendo o brilho, é ser uma lagoa secando...a morte não é apenas à ausência de vida, existem varias mortes ao longo da nossa existência,(quantos estão mortos e ainda nem sabem), morremos a cada sonho que deixamos de sonhar,mas é preciso mesmo matar dentro de si muita coisa, é preciso abandonar velhos medos e manias, é preciso morrer todo dia pra viver pra sempre!!!
Noite dessas dormi com uma mulher chamada Euforia e acordei na manhã seguinte na minha cama com essa mesma mulher só que seu nome agora era depressão, o bom foi que noite passada conheci uma outra mulher,o nome dessa era solidão e no dia seguinte quando o sol nasceu e olhamos juntos pela janela seu nome agora era companhia.
Quando caminhava pela rua voltando pra casa, uma velha cigana surgiu não sei de onde e pegou numa de minhas mãos e olhando fixamente nos meus olhos disse:
- Moço eu sei seu destino!
Ela foi tão enfática que me deixou sem reação, perdido,desorientado e quase gaguejando perguntei:
- Mas como?
- Só se deve perguntar o que se pode responder moço...
- Qual o meu destino moça, qual?
- Eu vejo nos seus olhos um brilho incomum...um brilho, moço, que não via faz muito tempo...o moço tem muitas paixões dentro de si, elas queimam a sua pele, mas não nascestes para oferecer seu pescoço em martírio, seus amores te escolhem e os que você escolheu lhes escaparam pelos dedos, você optou em colocá-los no baú do nunca mais, mas elas não...
- Eu serei feliz algum dia?
- Você já é feliz moço, a sua voz de dentro nasceu para gritar e não para sussurro, suas mãos são de pianista e não são de murro, o amor que sentes é correspondido na mesma medida, nunca serás compreendido, mas isso não terá importância para ti...irás um dia embarcar numa longa viagem e quando voltar e encontrar tudo no mesmo lugar e do mesmo jeito nem vai se importar porque nessa altura mudastes tanto que não importará o lugar onde estiver.
-Moça, porque me escolhestes?
- O importante não é ter certeza das coisas moço...
- Quanto lhe devo minha senhora?
- Quanto quiser me pagar meu filho
E abaixei os olhos para procurar na minha carteira o dinheiro e ser generoso com a velha cigana, quando voltei a olhar para o lugar onde ela estava ela já havia sumido...
Fiquei sem saber o porque de tudo aquilo, mas como ela mesmo disse, nem sempre é preciso ter certeza para se acreditar...

P.S: Texto ficcional, lírico e inverídico em alguns detalhes, mas real, singular e verdadeiro na sua essência.
http://andre.aquino12.blog.uol.com.br
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