Ia o discípulo estrada a fora a seguir os passos do venerável mestre; como sempre, caminhavam em profundo silêncio.
Seguiam para um vilarejo onde iriam em missão de socorro espiritual a um velho amigo. No entanto, a providência não os permitiu chegar antes da irmã morte, que se antecipou a eles em menos de duas horas. Nada poderiam fazer pelo enfermo, porém era sempre grata a presença do sábio para toda a comunidade; era em especial ao velho que acabara de expirar.
- Não pudestes despedir-se do amigo! - Disse a viúva, ao chegarem.
Completou a mulher:
- Sempre fostes presença alegre nas alegrias de meu esposo, porém, não foste presença triste na profunda tristeza dele.
- Engana-se, boa amiga. Fui mera presença alegre nas alegrias meras da vida, porém não fui ausência na tristeza dele. Fui sim, ausência na profunda alegria que somente o justo sente ao retornar ao lar eterno. Há tristeza pela separação das mãos que não se tocam mais. Mas há a alegria que fica nos corações que se mantém a se falarem no dialeto do mais profundo amor e da fraternidade.
Encabulada a velha o convidou a entrar para ver a veste humana, que não mais era morada da vida. Mestre e discípulo, postarem-se ante o corpo em profunda oração.
O velho sábio falou ainda à esposa, filhos e amigos sobre os mistérios da vida e da morte. Falou sobre o amor e a amizade. Falou sobre o ir e vir. Falou das alegrias e das tristezas. Falou sobre o que todos compreendiam e sobre o que lhes era oculto.
Falou e partiu.
À noite, quando iam agradecer o Senhor da vida pelo dia, o jovem questionou o mestre do porquê o ouvira tantas e tantas vezes e somente por vezes o compreendia.
O velho no tom de bondade e paciência que o marcava, respondeu:
- Porque somente por vezes você vivencia a lição.
Porque somente olha o mistério com os sentidos da matéria e não com os sentidos apurados do espírito. As saídas de um labirinto são mais facilmente identificadas quando olhada de cima e não se perdendo entre os corredores estreitos.