Nunca havia tocado no assunto dinheiro com Clarice. Ele ligava e ela o recebia em sua residência. Era assim que procedia. Não poderia ser de outra maneira. De outro modo a esposa desconfiaria.
O fato era que Clarice era muito rica e sempre que podia, dava um presente para Benito Cruz, seu amante. Ela não podia se exceder demais com os presentes. Era um relógio , uma camisa , uma infinidade de coisas, jamais dinheiro. Só que Clarice estava de viagem marcada para um Congresso e ficaria fora por um longo tempo, e por isto, quando Benito se preparava para sair, ela lhe deu o dinheiro. Claro que ele quis recusar. Mas ela foi persuasiva que se viu obrigado a aceitar.
Com o dinheiro em mãos, não sabia o que fazer com ele. Teria que explicar de onde. Isto ele com certeza não podia fazer. Então o que fazer?
Aquele dinheiro lhe queimava as mãos e a consciência. Porque ela havia feito aquilo. Nunca quisera o dinheiro dela, havia deixado isto bem claro na primeira noite em que se conheceram.
_Olhe , sou casado e sabes bem disto. Eu tenho a minha vida particular e quero que seja assim. Nós seremos amantes e pronto. Eu ligo ,ou você liga . Se puder eu vou, se não vou quando puder.
E assim viviam os dois amantes. Mas ele tinha a certeza absoluta de que ela havia feito aquilo apenas para zombar dele. Era uma maneira de mante-lo sempre pensando nela.
E agora o que fazer? Como resolver aquela complicada questão. Ele pensava, raciocinava,refletia e não chegava a uma solução.
Como explicar para a esposa a origem de todo aquele dinheiro. Poderia dizer tanta coisa que agora não lhe ocorriam.
Já não conseguia mais ter uma noite de sono. Acordava suando e com tremores por todo o corpo. A esposa perguntava o que estava acontecendo com ele, se havia algum problema. Ele desconversava e dizia que não era nada.
Então num dia qualquer lhe ocorreu a idéia:
- Já sei! Pensou:- Vou depositar o dinheiro na conta dela. E quando ela descobrir, vou convence-la a retirar tudo. Pronto. Que idéia genial .
No outro dia foi depositar o dinheiro na conta da esposa, sem antes comunicar ao gerente a sua complicada situação. O gerente disse que a partir do momento que uma determinada quantia entrava na conta de algum cliente, só o cliente é que poderia movimenta –la, e que não havia nada que o banco pudesse fazer.
_ Não se preocupe, eu mesmo virei retirar este dinheiro, ou farei com que ela venha, alias, foi um dinheiro muito bem suado.
Não demorou muito tempo para a esposa tomar conhecimento do deposito na sua conta. Ligou primeiramente para o marido , que demonstrando espanto, mandou que não tomasse nenhuma atitude e que esperasse por ele em casa .
Quando chegou em casa encontrou a esposa sendo medicada por um médico particular que lhe informou que ela já estava bem, mas que alguma coisa a tinha deixado naquele estado deplorável. Depois que medico saiu a esposa lhe contou o que sucedera. Ela havia retirado um extrato para simples conferencia e, para seu espanto, encontrou aquela enorme quantidade de dinheiro na sua conta. Só teve tempo de guardar o papel na bolsa e desfalecer e só acordar em casa. Não era para ser assim deste jeito. Não imaginou o estrago que faria na vida da sua esposa.
Quando ela despertou contou para o marido do dinheiro que havia sido depositado na sua conta. Na hora perdeu os sentidos e só foi acordar em casa. Começou então um debate sobre a origem da quantia. O marido disse que ela esperasse alguns dias e que fosse ao banco falar com o gerente ou ele próprio falaria. A esposa não quis que o marido fizesse coisa alguma, apenas perguntou se não fora ele quem depositara o dinheiro. Fato que negou de pés juntos.
- Bom! Se este dinheiro não é nosso ,vamos deixar que o banco resolva. Não quero complicações com a policia.
- Mas querida, este dinheiro é nosso!
- Como nosso?
- Nosso ora!
- Não entendi! Explique isto!
- Quero dizer que alguém se enganou e a culpa não é nossa. Amanhã mesmo eu vou lá e retiro este dinheiro que caiu do céu. E não se fala mais no assunto!
Já estava convencido da sua decisão quando a esposa lhe pediu para esperar. Pediu para que lhe alcançasse a bolsa. Tirou lá de dentro um papel e entregou ao marido que perplexo leu o conteúdo do texto.
Ele olhou para a esposa deitada na cama e deu um sorriso de tudo bem eu entendo e tombou ao chão desfalecido.
A esposa não compreendeu nada. Apanha no chão a folha que havia caído das mãos do marido. Até hoje ela não consegue entender o que aconteceu. Na folha estava escrito que a senhora devolvia ao banco uma quantia que não lhe pertencia , que fora depositada por engano ,e que o banco se comprometia a solucionar com urgência o problema. E que se fosse provado o deposito e a procedência , o dinheiro seria devolvido à conta do titular, que era conjunta.