Foi preciso lutar para vencer aquela barreira, aquele impacto sofrido quando deitou-se com um homem à primeira vez. Sofreu, realmente. E depois mais ainda quando ele a deixou para voltar à outra quetinha na vida e ela pensava não ter mais.Pensou que depois daquela experiência ele seria só dela. Afinal, uma mulher não vai assim, assim para a cama com um homem. Era preciso ter em que se firmar, e nada melhor que a conversa dele, que a sinceridade que aparentou nos primeiros dias, primeiros bate-papos. Nas cocas tomadas em tantas lanchonetes. Era preciso escorar-se numa coisa qualquer que fôsse dele, que partisse dele para ela. E nada melhor do que os planos para o futuro, que os pensamentos bonitos, que as poesias feitas na hora e faladas ao pé do ouvido, no parque cheio de crianças que corriam e saltavam, com as mães e babás tomando conta, vigiando e batento papo, também, não se sabe lá o que.
Foram duros os primeiros momentos, o primeiro beijo dado na cama. O sonho dela não sabia porque era outro. Não queria aquilo. Lutou. Chorou. Falou que pretendia casar-se na igreja. Vestir-se de noiva, com véu e grinalda, com a consciência limpa, virgem, temerosa da primeira noite. Não estava certe. Não estava! Ele pediu que ela se acalmasse. Amavam um ao outro. Desejavam um ao outro. Que ela confiasse nele, que pensasse neles somente, naquele momento presente. Que esquecesse o passado, não visse o futuro com outros olhos. E ela ainda insistiu, pediu que ele se levantasse, tirasse o corpo trêmulo de sobre o dela, que outras oportunidades melhores viriam. E ele tentou então superar a crise.
__ Saia, por favor.
Ele levantou-se triste, ajeitou os cabelos, sentou-se na barra da cama, olhou para os pés, mexeu com os dedos deles. Esfregou-os uns nos outros. Colou os olhos no teto, num repente.E ela tentou ainda mais contornar a situação, falado na mãe, no pai, no irmão, na irmã.
__ Que é que vão pensar de mim, se pego um filho?
E ele manteve-se quieto. Levou, depois a mão no bolso da calça que estava sobre a cadeira ao lado. Tirou o maço de cigarros todo amassado e dele tirou um cigarro. Acendeu-o e pôs-se a fumar, e pôs-se ouví-la, dando a entender que não queria mais nada, que estava de acordo. E talvez não quisesse mesmo. Mas ela percebeu sua tristeza, percebeu que sua ira somente se acalmaria com o desabafo do sexo.
Levou então o travesseiro à boca. Mordeu-o prendendo o choro.Cobriu o rosto com ele, para depois levantá-lo levemente para ver se estava sendo notada.
__ Vamos nos vestir! - falou secamente, e ele secamente se levantou.
Pelado, ajeitou sua roupa estendendo-a sobre o pedaço livre da cama.Ela observava-o deitada ainda, com a colcha cobrindo toda sua nudez até o pescoço. O clima estava tenso. O ambiente embaraçado.
Buscou ele os sapatos sob a cama.Tirou de dentro deles as meias. Sentou-se e pôs-se a calçá-las.Um pé. Depois o outro. Ia levantar-se para vestir as calças. Uma mão acariciou-lhe as coxas.Tentou ainda libertar-se daquela sensação de prazer. Forçou levantar-se e a mesma mão segurou-o pelo braço. Contemplou a namorada. Ela tinha um olhar convidativo ao amar. Não era a mesma moça pura de antes.A virgem chorona. Era uma mulher como outra qualquer, que puxou-o para junto de si, e fez amor com ele, que já tinha calçado as meias, que ia vestir a cueca, as calças...camisa. Enfiar os pés nos sapatos marrons mocassim e esperá-la aprontar-se , pentear-se e poderem sair os dois em busca de um refrigerante e tomá-lo para matar a sede que teriam sentido se ela tivesse deixado ele aprontar-se até o fim e ela tivesse ido, vestir-se também...