O menino teria uns cinco anos e foi pescar com a mãe. Montaram num barquinho, ela remando, ele com uma redezinha de pescar, que mais parecia uma rede de caçar borboletas. Mas, para o aprendizado do menino, servia bem.
Um pouco além, já em meio ao calmo rio de águas claras, o menino mergulhou a rede na água e, ao retirá-la, viu que trazia no seu bojo triangular dois peixinhos se esbaldando para respirar.
- Mãe, olha! Pesquei estes peixinhos!
A mãe, pedagoga natural, sem conhecimentos de bancos escolares, mas apenas o que a vida lhe ensinou e a ética natural lhe inspirou, respondeu:
- Muito bem, agora você já sabe pescar. Pode botar os peixinhos de volta pra água.
- POr quê? A gente não vai comer eles?
- Não, a gente só veio ver como se pesca. Pode botar eles de volta pra água antes que morram de falta de ar.
- Mas aqui tem ar!
- Eles estão acostumados com o ar da água. Jogue já!
A contragosto, o menino verteu os peixes na água, que agilmente lhes abriu espaço para que nadassem longe dali.
- E agora? - perguntou o menino. O que vai acontecer?
A mãe calmamente lhe respondeu:
- Agora eles vão se casar e vão ter muitos peixinhos, você um dia vai ver. E quando tiver muitos e muitos, aí a gente vai poder escolher alguns para comer.
O menino calou-se e continuou seu aprendizado. "Pescou" pouco, apenas um peixe além do casalzinho que já tinha atirado de volta na água.
Em poucas horas voltaram para a praia, satisfeitos com a aventura.
Passados alguns dias, mãe e filho foram ver o puxão de rede que os pescadores locais faziam para sua sobrevivência. Era um espetáculo: os pescadores cantavam, enquanto a rede enorme, carregadíssima de peixes de todos os tamanhos, era arrastada da água para a areia. Havia ali um carnaval de cores, cheiros, gritos, risadas, cantos - um espetáculo maravilhoso de abundância e trabalho.
O menino abriu os olhos, espantadíssimo, puxou a saia da mãe e gritou:
- Mãe, os meus peixinhos que se casaram tiveram todos estes filhos?
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E.E.