A Dança da Canoa
Luís Gonçalves
Prostrado no peitoril do rio, estendo a imaginação ao alcance da vista. No espelho d’água a alma ribeirinha se reflete personalizada.
Nessa janela de imagem e som, vejo um cocho flutuante, rasqueando toceira num baile emocionante.
Empinado pela honra, um maestro com o toutiço desnudo, cutuca com euforia a banda que rege a harmonia. A batuta curta dança no salão com precisão: a dança da canoa.
O vento enxuga o suor do rosto, soprando a brisa no cabelo desgrenhado. Arrepiado igual o lombo do rio.
O espetáculo não pode parar.
As folhagens vibram e se atiram de encontro ao palco, para perseguirem a função. As aves excitadas, em revoadas se entregam a orgasmos múltiplos de paixão.
Todos pedem bis!
Mas o duo elétrico não pára.
Bem ali, onde o mundo termina, o baile se perde no gargalo do rio...
E lá se foi o grande show da minha vida.