Na minha janela, aberta diante de mim a vida passa, batendo em ritmo de uma vida sem fim, lenta, mas perene. Recebo a brisa amiga, o vento que chega alvoroçando meus papéis e que vou atrás catando um a um pelo chão.
Às vezes eu me sento diante dela, em minha mesa, quieta, projeto meu olhar para fora. Ao elevar o olhar, um céu azul me enleva, fico a admirar as nuvens brincando, passando, levadas pelo vento.
Vejo outros quintais, recortados devido aos muros, às construções. Não me canso de admirar os hibiscos tão vermelhos contrastando com seus galhos tão verdes que enfeitam a minha paisagem. Coqueiro, mangueira. Uma mangueira é árvore de se reverenciar também.
Na minha varanda, logo no telhado, pássaros começam a chegar como quem não quer nada. Eu os cumprimento, sorrio, dando boas vindas aos bem-te-vis, pardais... Opa! Um beija-flor tão bonito voou para a acácia, única árvore que restou em minha casa.
Ela já não dá mais flor como antigamente, sempre podada, coitada, mas eu a plantei. Desde semente, eu a vi germinar, brotar seus galhinhos, tenros. Acompanhei todo seu crescimento. Ela cresceu, ficou alta. Quero crer que tenha crescido para que possamos estar frente a frente, pois quando abro a minha janela, lá está ela!
Pode ser que não existam mais as flores em cachos amarelos, exuberantes, assim como não há sonhos adolescentes na mulher. Contudo, descubro na árvore ninhos constantemente. Os casais de passarinhos chegam, constroem seus ninhos, seguros e assim, posso acompanhar todo o processo, desde a época do choco até quando o filhote, já mais sabido, inicia seu vôo pelo mundo afora. É lindo, sabe.
Quanto a mulher... Bom, pode não ter a exuberância da juventude, pode ter perdido alguns sonhos pela estrada, um certo cansaço às vezes, mas não perdeu a capacidade de sonhar, desejar, deixar o coração falar. De forma mais consciente, é certo. Prova está no fato de abrir a janela e saber receber o sol da manhã, o vento brincalhão, a lua, as estrelas, e captar cores, tirando de momentos aparentemente comuns, possibilidades, vontade de viver, estar em comunhão com a vida e, poder contar sobre essas pequenas coisas, parte de meu mundo que trago a você.