“Anda logo amor!” ela me diz.
Um engano o que ela me diz. Quem dera não mais me dissesse essa palavra que ouço como um entorpecente, uma pancada, uma agressão aos meus ouvidos... E eu novamente vou ao copo, e novamente bebo, e novamente me embriago, e penso nessas palavras que um outro homem daria tudo para ouvir da boca de uma mulher como esta...
“Anda logo amor, masturbe nas minhas pernas!”
Ela diz novamente ao meu ouvido, e eu não tenho vontade de fazê-lo... Tenho vontade sim de matá-la, porque esse é o seu jeito feminino e perspicaz de me rejeitar, de não querer que eu a penetre... Esse é o seu jeito de me afastar de entrar fundo no seu corpo e na sua vida... É o seu jeito de me dizer que não...
“Anda logo!”...
Diz como se dissesse ao namorado da sua mãe, quando ela quer que ele vá embora. E as palavras doces escondem o amargor da alma de quem rejeita o amargo de me suportar como quem suporta a morte...
“Beija aqui o meu ventre... os meus seios!...”
E eu obedeço sabendo que esse é seu jeito de afastar-me da sua boca, para que não sinta o hálito que rejeita, como rejeita todos os outros a quem vende o seu copo... E eu finjo ser o único, e beijo com sofreguidão, e roço minha barba pelo seu ventre, e subo até os seios, e os vejo nesse arrepio repugnante de quem suporta o instante como se vendesse ao diabo um momento de purgatório em troca de outro de paraíso...
“Deita amor, e deixa que eu te acaricie!...”
E eu novamente submisso recosto calado subjugado por esse amor doentio que tenho por esta prostituta que sabe como ninguém, dominar um homem como eu, para tirar-lhe não só o dinheiro, mas também a razão de viver... Pois muitas vezes a vi de longe quando me escondo e observo que os seus amantes todos são tratados de forma igual, e saem encantados e inebriados com a sua voz, convencidos de que são únicos, e que receberam dela todo o amor que jura ter em momentos como estes...
“Está bom assim, amor?”
E como é que eu posso negar que sim!... Como poderia mandar que parasse?... Como é que eu diria num momento deste que parasse com o movimento da mão que me enlouquece?... Como é que eu diria que queria mesmo é entrar dentro dela, sentir seu perfume, sentir o calor das suas entranhas, e explodir dentro do paraíso que volteio sem nunca poder sentir o que há dentro dos seus frios muros?...
“Vai, amor!... Conseguiu, amor?!...”
E eu nada digo enquanto me contorço numa explosão, contraindo todos os meus músculos e nervos, segurando e soltando sucessivamente a sua mão e desejando que pare, mas não tendo forças para mandar que pare...
Instantes depois, tudo acabou... Não tenho mais nenhuma chance de chegar perto, a não ser no momento que apressada mas fingindo que não, faz com que eu vista a minha roupa e caminhe para o escuro da noite. E de lá onde eu me escondo, ainda ouço tocar o telefone e vejo com os meus próprios olhos que outro chega minutos depois que saio...
E a vejo na porta dizer entre risadas:
“Tudo bem, amor?!...”