Ele é muito tímido... Mas de vez em quando João vira um menino alegre... Perde a timidez e aquele jeito de menino assustado como só ele tem dá lugar ao de um outro muito sapeca... Gosto desses dois jeitos do meu menino... Um é contagiante e amável na sua alegria desenfreada; o outro é lindo na sua tristeza, e eu gosto mesmo assim... Ainda que doa meu coração quando recosto ao seu peito e sinto sua alma respirar no compasso da tristeza...
Um dia desses João chegou muito alegre... Ria sem parar e disse:
-Rosa minha flor, eu te convido pro baile!...
-Você bebeu, Jô? – eu perguntei fingindo não estar gostando. Ele ria sempre sem responder, porque falava pouco mesmo quando alegre... Depois com os olhos de festa fitos em mim, disse:
-Cadê aquele teu vestido de chita, minha Rosa?
-Deixa de coisa, Jô!...
Ele ria sempre o seu riso lindo e acabei rindo contagiada pela sua alegria... E ainda rindo foi que me pegou pela cintura, me beijou a boca, puxou pra cama, e se não tiro a roupa logo ele a rasgava... Eu sabia que quando João estava daquele jeito não adiantava não querer as coisas na hora que ele queria... Então o jeito era eu também querer, como já estava querendo... E ele também tirou a roupa, e derramou dentro de mim um pouco mais da sua alegria, e fiquei feliz...
Virou pro lado um momento, e pensei que havia sossegado... Mas depois do banho ele recomeçou a agir como um menino levado. Correu saltitante até a caixa de roupa e achou meu vestido de chita que eu nem usava mais. E sem palavras me fez vestir todo amarrotado mesmo. Então me olhou com seus olhinhos bonitos e como é sempre imprevisível quando está assim, me puxou pra rua, e acabamos na praça...
Tinha um comício por lá, mas ele não ligava pra nada quando estava nessa alegria sem motivo... E o meu querido agarrado à minha cintura (como a figura que um dia vi de anjos acasalados), dançava comigo e rodopiava... E todo o povo nos olhava e via quando meu vestido de chita esvoaçava como meus cabelos mostrando a todos as minhas pernas nuas, e todos ouviam os risos do meu João, e aplaudia a nossa dança, e eu também perdi a minha timidez, e queria mostrar a todos que eu amava o homem que me fazia tonta...
O candidato que antes discursava viu que ninguém prestava mais atenção ao seu discurso, e fez sinal pra que uns homens fizessem meu João parar. O meu menino que sempre ria quando estava alegre, riu deles. Mas os homens eram muitos e bateram nele. E o prenderam, e bateram mais ainda, porque embora não dissesse nada, estava muito machucado quando chegou no outro dia...
Só eu entendo meu menino quando está alegre... E só eu entendo a sua dor...
Depois daquele dia, meu João chega sempre muito triste...