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Contos-->O APAGÃO -- 13/05/2005 - 10:31 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O A P A G Ã O

Fernando Zocca

Daquela reunião com o vereador, no final da tarde, ali no gabinete, resultou o consenso de que Rosalva fundaria uma associação cujos objetivos eram os de promover a pessoa humana, prestar serviços sociais, filantrópicos e educacionais.
Ela então metódica, diligente e atenciosa, sabendo de antemão que poderia contratar outras interessadas, mobilizou sua comunidade e na semana seguinte “abaixou” com mais vinte mulheres na espremida Câmara.
O edil assustou-se e não acreditou que Rosalva pudesse ter levado a sério àquela que fora uma simples brincadeira, no final do expediente de uma sexta-feira, de uma semana que tinha sido estressante.
Algumas mulheres, instruídas com antecedência haviam comprado roupas pelo crediário, comprometendo o minguado dinheirinho, e outras chegaram a trancafiar seus filhos menores em casa, a fim de que pudessem exercer a nova função.
O representante do povo, naquele momento, sentindo-se premido pela situação encontrou uma saída: todas teriam consolidadas suas perspectivas, desde que se filiassem ao partido e conseguissem, no mínimo, mais cento e dez ou cento e vinte fichas de novos correligionários.
Elas todas nervosas, não aceitaram a proposta, e lideradas por Rosalva juraram vingança. Delatariam tais atos canhestros para a sociedade, pelos meios competentes.
Agoniado, o edil sofreu um surto de rinite vasomotora. Espirrava seguidamente. Seu narigão escorria e coçava. A obstrução nasal punha-o mais tenso ainda.
Jurou aos céus que marcaria uma consulta com o especialista ainda naquela semana.
Rosalva com o rosto túmido, vestindo uma blusa verde, parada na porta, continha com os braços aquela turba afoita, que pedia linchamento.
A cor verde evocou nele a figura do pai. Ele fizera parte do movimento Integralista na década de trinta. As mulheres usavam blusas verdes e os homens camisas da mesma cor.
Um turbilhão invadiu-lhe a mente. O calhamaço do projeto de lei que obstruía, com o aumento das exigências legais, o exercício da profissão de taxista, caiu-lhe na cabeça, derrubado pelo vento que invadia o gabinete.
Embasbacado, com o queixo caído e babento, foi atingido pelo vórtice que esparramava os papéis na sala.
“É o Saci-Pererê”, gritava uma aflita. Na confusão o projeto que concedia aumento para as passagens de ônibus rodopiou e foi parar na calçada.
As componentes do grupo, frustradas, dirigiram-se em passeata à rádio local, e depois de longo diálogo com o locutor, acertaram que uma comissão participaria do programa fazendo a denúncia e cobrando providências das autoridades competentes.
Convocados pelo telefone, o vereador e seus assessores, preparavam-se para o combate mortal que transcorreria no ar.
Mas trêmulos e suando frio, respiraram aliviados, quando no exato momento do início do programa, caiu sobre a cidade o famigerado apagão.
A galera vibrou e em estrepitosa gritaria soltou rojões de comemoração.
O poder das trevas havia vencido o primeiro round.


Leia também os textos da série Finalmente Tupinambicas das Linhas se Ferrou: O COLARINHO BRANCO DO JARBAS, O RELÓGIO e a TSUNAMI CAIPIRA.
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