Estava naquela fase de esquecer o calendário, virava os dias numa azáfama gigantesca, trabalhando como quem deseja resolver os problemas do mundo inteiro.
Comia apressadamente, sem degustar os alimentos, só pensando no trabalho, atingira a zona da mania, só podia ser mania.
Esquecera os amigos, a mulher, a filha, os sobrinhos, os colegas, estava realmente obstinado..´.
Aí veio aquela ligação. O telefone tocou e ele nem queria atender. Pegou no gancho mecânicamente: alô!
A voz de lá do outro lado, indagou:- é você, Cordeiro?
- Sou eu, sim. Quem é?
- Digamos, um amigo, preocupado com a sua felicidade.
-Estou ocupado, o que você quer?
- Já lhe disse, estou preocupado com a sua felicidade. Você sabia que está sendo traído?
Os traídos são os últimos a saber, não é verdade? Você deve ignorar isto.
-Traído!?
- Sim, sua mulher e o seu melhor amigo.
Desligou num gesto brusco.
Começou a raciocinar: Mônica e o Ribeiro, não é possível. Mas tem andado tão ausente, tão distante, tão cansado.
Deixou o trabalho abruptamente. Começou a andar sem destino, vagando pelas ruas da cidade, sem enxergar coisa alguma. Era como se, de repente, tivesse levado uma pancada enorme na cabeça e estivesse impedido de raciocinar, sentindo somente uma imensa dor que não passava.
Mas, gostava tanto da Mônica, fora fiel o tempo todo...e o Ribeiro, seu melhor amigo desde a infância, carne e unha, tantas confidências...de onde menos se espera...
Parou na floricultura, comprou umas rosas e resolveu levar para Mônica. Ia dar com luvas de seda, entregava as rosas, enchia os olhos d´ água e, depois, sem dizer palavra, iria embora para nunca mais. Só iria ter saudade da Bia, a filhinha de quatro anos que ele adorava.
Chegou em casa, abriu a porta e, de repente, ali estavam todos os seus amigos, cantando parabéns, a Mônica muito risonha, batendo palmas:
-Querido, hoje é primeiro de abril, seu aniversário, nós preparamos uma surpresa para você.