Adorava o zodíaco, fora fã incondicional de Omar Cardoso, não saía de casa sem antes ler o horóscopo, pois precisava saber que rumos tomar no dealbar de cada dia. Mandara fazer mapa astral, não passava sob escadas, ficava em casa toda vez que coincidia ser agosto, sexta-feira, 13.
Explicava os seus medos, as superstições, as crendices, mas os colegas pareciam não levar nada a sério, porque descrentes nas coisas do mundo astral.
Ficava rouco de tanto tentar contestar as afirmações, principalmente do Tonico,que tinha sempre argumentos muito fortes para rebater as suas observações sobre a influência dos astros sobre as pessoas.
Se alguma coisa da vida real saía pelo avesso do previsto no seu horóscopo, buscava um modo de justificar, de sorte que, para sua avaliação, as previsões dos magos eram infalíveis.
"Os seres humanos, dizia, são os astros minimizados, guiam-se por órbitas que obedecem as forças cósmicas de atração e repulsão. Somos diretamente influenciados pela lua e pelo sol".
Seus olhos brilhavam quando falava dos astros, dos signos, das previsões fantásticas dos astrólogos.
Naquela manhã, lendo o horóscopo, viu que era uma dos seus grandes dias de sorte. Vestiu o melhor terno, colocou uma gravata combinando, calçou os sapatos de cromo alemão que mandara engraxar no Zé Marreco e saíu para a luta do cotidiano.
Deu zebra total: na esquina, um táxi passou disparado e arremessou lama escura no seu terno novo; ao chegar no escritório, o chefe deu-lhe uma bronca daquelas porque chegara atrasado; foi comer um sanduíche e mordeu a língua sem querer; ganhou na loteria, mas perdeu o bilhete e não teve como receber o prêmio e, de noite, depois de tanta decepção, recebeu um fora da namorada, a Lenita, que resolveu namorar o seu mais detestado inimigo.
Quando chegou em casa, revoltado, rasgou sua coleção de horóscopos, atirou ao lixo o mapa astral e deu um solene cotôco para a fotografia de Omar Cardoso que mantinha na mesinha de cabeceira.