Isadora olhou bem para o espelho, pensou bem, relutou um pouco e saiu decidida para a rua. Completamente despida, causou um escândalo generalizado e a indignação até dos mais tortos. Na padaria, deixou os padeiros perplexos. Disse que o pão estava caro, além de muito torrado. Vendo a madame com os cachorrinhos de raça, disse para ela voltar para casa e cuidar melhor dos filhos. Para o homem rico que batia na mulher, dedo em riste, alertou que o denunciaria para a delegacia de mulheres. Na Taberna de Virgílio causou perplexidade e alvoroço com a sua nudez perturbadora. “Homens de boa vontade, vão para casa no seio de suas famílias. A taberna não é lugar de gente de bem”, berrou com todo mundo. No banco da praça, cruzou as pernas com toda liberdade e pode ler e revista de decoração sem pudores diante do olhar espantado dos transeuntes desavisados. Até mesmo a mulher mais bondosa do lugar, tida como um “anjo”, não acreditou no que via e do outro lado da rua gritou a plenos pulmões: “Vagabunda, que Deus te castigue por tudo isso”. Ao chegar em casa, tirou a roupa e colocou um longo e lânguido vestido de seda. Nos ombros do marido chorou muito e lamentou sair de casa sem uma peça da mais infame hipocrisia.