Eram quase três da manhã quando o telefone gritou lá da sala. Benedito acordou assustado e foi atender a ligação depois de vários toques. Por volta das sete da noite, pediu uma pizza de calabresa para saciar a fome do jantar, bebeu duas latas de certeza, viu o noticiário da tevê e dormiu no sofá. Quando acordou, tinha um pântano na boca. Decidiu-se levantar para escovar os dentes e rumar para a cama. Quando chegou a beira do descanso, percebeu que precisaria arrumar as documentos de sua pasta, pois o trabalho lhe exigia disciplina e organização. Timóteo, o chefe, era exigente, apesar de compreensivo e equilibrado. Benedito jamais havia deixado em débito suas obrigações com o trabalho, pois sabia que a mínima falha poderia lhe custar o emprego. Com os documentos em ordem, olhou para o travesseiro e despencou sua consciência num abismo de sono e absoluto esgotamento. Quando estava na melhor parte do sonho, acordou. Eram quase três da manhã quando o telefone gritou lá da sala. Benedito levantou assustado e foi atender a ligação depois de vários toques. Sua esposa, no outro da linha, disse com deboche e desprezo. “Benedito, estou com meu amante. Quando amanhecer, prepare você mesmo o café”.