A expectativa no ainda tímido vilarejo de Rio dos Véus era quase comparada àquela que precedeu a inauguração da estação ferroviária. Não havia uma só pessoa que não sabia da grande novidade que ficava na praça central. Alguns encaravam o cinemascope como uma transmutação do futuro, outros – os mais céticos – viam na novidade apenas uma engenhoca tecnológica, mas não negavam a ansiedade que o aparato lhes causava.
Vô Arthur, famoso por sua benevolência e alegria, era um dos mais exaltados. “Vamos dar uma volta grande no tempo, Rio dos Véus entra a partir de hoje no futuro. Estamos à frente de muitas cidades com o filme de cobói que hoje vamos ver”, divertia-se enquanto bebia sua pinga no boteco.
A escuridão da enorme sala não intimidou os corajosos riovelenses. Um a um, da beata ao cafetão, foram entrando num silêncio de assombro. Parecia uma procissão rumo ao desconhecido. De repente, uma lanterna mágica foi se acendendo e contrastantes imagens em preto e branco foram surgindo, e em movimento.
Os queixos despencaram e muita gente jamais se esqueceu daquele dia. A não ser pelo tiroteio dos “cobóis”, que fez com que todos fugissem do cinemascope em desbaratada correria, tamanho o pânico.