Saiu de Leopoldina sem se despedir de Maria, sua namorada e admiradora, com quem dançara com os rostos colados na noite anterior.
Perdeu-se no mundo. Percorreu milhares de quilômetros na terra, na água e no ar. Ganhou rugas, cicatrizes e calvície, e alguns fios de cabelos brancos.
Viveu momentos de alegria e tristeza e conheceu pessoas de todas as espécies, algumas boas e outras más.
Amou muito. Decepcionou-se também. Envolveu-se com muitas mulheres. Algumas o quiseram e foram rejeitadas. Outras ele desejou e o repudiaram.
Os anos decorridos não o fizeram, contudo, esquecer Maria. Largara o torrão natal, mas não a imagem da adolescente.
Sonhava rever a paixão da mocidade, aquela que o perturbara agradavelmente com suas ousadas carícias.
Arrependia-se, agora, do afastamento do amor juvenil, que julgara, na época, uma garota leviana, incapaz de ser levada a sério. Não sabia, então, que ali se encontrava a companheira ideal.
Decidiu, assim, retornar aos braços da moça. Ela certamente o receberia com seu jeito moleque de ser, como fazia nos tempos idos, pendurando-se em seu pescoço.
Chegando em Leopoldina, já à noite, soube que Maria se encontrava no Clube Leopoldinense, jogando buraco com as amigas, como sempre fazia nas quartas-feiras.
Dirigiu-se, ansioso, ao encontro daquela que lhe dera muitas alegrias na juventude e verificou, sem ser notado, que a amada não mais era a jovem de antanho, mas ainda uma bela e vistosa criatura.
Com muita alegria e emoção, colocou-se à frente da mulher.
- Maria! Aqui estou eu, o Carlos, seu eterno apaixonado.
Ficou na expectativa da reação de Maria, certo de que ela, logo que saísse de seu torpor, o abraçaria efusivamente, recordando-se dos bons momentos de outrora.
Encabulada, ela fitou as companheiras ao seu redor e, mostrando seu desconforto, desarmou Carlos com um rápido olhar, sem expressão e interesse, e um frio e rápido cumprimento:
- Como vai o senhor. Tudo bem?
Feito isso, voltou-se para a mesa à sua frente e ali lançou suas cartas, com ar vitorioso, bradando:
- Canastra!