Adamastor ligou o velho rádio para ouvir o noticiário do dia enquanto cortava o fumo sentado do degrauzinho da porta de entrada de sua humilde choupana. Não demorou muito para que Joaquinzinho, o amigo do pangaré rajado, chegasse pelo torto trotar de sua aberração eqüina. Já foi logo falando, antes mesmo de descer do cavalo: “Ô Adasmastô, ocê dinovo com esse rádio véio! Larga mão disso, só trais disgraça”. Enquanto ainda enrolava o fumo na palha, Adamastor franziu a testa e com olhar destrutivo e repulsivo esculachou o colega. “Cê é muito do ingnorante. Sabê das coisa do mundo é bão dimais. Ocê que é atrasado. Cê nunca orviu falá na tar da Ardêia Globá?”. Joaquinzinho, o amigo do pangaré rajado, desceu do cavalo e implorou ao amigo: “Ô hôme. Larga mão dessas coisa de tecnologia. Aqui na vila cê tem tudo. Sua muié é bonita. Seus fio tudo trabaiadô. A pinga do Virgío é boa até a conta. O ar das árve é uma delícia. Prá quê noticiário da rádia? Cê é muito bôbo mêmo”.
O bisneto de Adamastor contou esta história para seu filho pouco antes que ele dormisse. O pai preocupado com a criança de seis anos, encerrou a anedota fazendo um pedido. “Filhinho, televisão é coisa que não presta. Só assista aos desenhos, viu”.