“Pode olhar, eu não mordo”. De maneira muito natural, Virgílio regou as plantas no vaso sem perceber que o balcão de sua Taberna ainda estava cheio de copos para lavar.
Tivera um dia entediante, expulsara dois bêbados a ponta pés e teve que apartar uma briga de dois ex-presidiários. Svetlana, sua fiel esposa, sempre o ajudou na limpeza após o fechamento da Taberna, só que naquela noite estava de cama, recuperando-se de uma febre.
Já eram quase quatro horas da manhã, quando suas mãos cansadas começaram a lavar os copos. Ainda não era velho o suficiente, por isso agüentou firme até o último copo. Ao terminar, sentou-se numa cadeira de freguês e adormeceu debruçado sobre uma das mesas.
Um raro mosquito saiu das escondidas folhas da planta do vaso e iniciou seu vôo sem paradeiro atrás de sangue. Quando passeava pelas extremidades recônditas da taberna, avistou os braços de Virgílio como um faminto avista uma suculenta coxa de frango.
A picada não demorou mais que três segundos, mas foi suficiente para saciar a fome do raro mosquito. Virgílio acordou com os raios de sol da manhã de domingo estatelando-se em seu rosto. Já febril, agora era ele quem ficaria de cama por quase uma semana inteira.