Josefina, a viúva da rua dos Trilhos, gostava de ouvir seus cantores preferidos no velho gramofone. Ela colocava o aparelho numa cadeira, enquanto sentava em outra. Assim, passava tardes inteiras no passeio da sua casinha.
“Boa tarde, Dona Josefina”. “Como vai a senhora, Dona Josefina?”. “Dia bonito, Dona Josefina”. A viúva sempre respondia com um aceno, ou senão, baixava levemente a cabeça em sinal de aprovação. Nunca dissera um “a”, só que este fato nunca levantou suspeitas, pois todos passavam sempre com pressa pelo passeio da casinha.
A casa de Dona Josefina era a última da rua dos Trilhos. As outras construções foram dominadas pelo tempo e pelas traças, eram não mais que casarios empoeirados e assombrados. Durante a noite e nos dias de chuva, podia-se ouvir o murmúrio dos mortos e a algazarra dos gatos, mas Dona Josefina não se importava, sempre dormia num sono pesado.
Um dia a viúva da rua dos Trilhos morreu. Fez-se festa no lugar, ela reencontrou o marido e toda a vizinhança reapareceu para recepciona-la.
Aos olhos em que a terra um dia há de comer, a rua dos Trilhos virou um cemitério de abandono e desolação, um amontoado de casas abandonadas repletas de saudades e lembranças.