O céu até que sorriu um pouquinho naquele dia. Durante quase todo ano fez frio e choveu em Rio dos Véus, parecia que a cidade fora acometida por uma praga implacável. Mas nem por isso os torcedores deixaram de ir para o campo torcer para o Cajazeiras Futebol Clube na última partida do campeonato regional. Depois de um trágico ano, o povo queria mais era extravasar suas emoções ao final do jogo.
O trauma era coletivo. Em fevereiro um trem de passageiros descarrilou, morreu muita gente. Em abril, uma gripe de varíola vitimou muitos riovelenses. Junho, as tropas da revolução chegam a cidade. Com muito custo e sangue, Rio dos Véus expulsa os revolucionários. Setembro, morre o padre Sezefredo Benjamim. Comoção em toda Rio dos Véus. E para completar, um maníaco fugiu do manicômio regional e matou um casal de velhinhos a machadadas a coisa de duas semanas. Só restava para aquele povo infeliz o bom e velho futebol.
Campo lotado, grama encharcada, craques contundidos. Cenário melhor para um épico esportivo não existia. Canário chutou lá no gogó da ema e fez um golaço para o Cajazeiras. Delírio e festa incomparáveis na história. Com aquela vitória, o Cajazeiras não seria rebaixado para segunda divisão.