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Contos-->SOFIA NO ZOOLÓGICO. -- 31/08/2005 - 13:30 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Na manhã de sábado, o mormaço e a indefinição do tempo, não foi impedimento para levarmos, pela primeira vez, a nossa sobrinha-neta Sofia, ao jardim zoológico.

Avesso a sair de casa aos sábados, por causa do programa do Raul Gil, naquele dia Edir esqueceu tudo. Não perderia por nada, a chance de ver as reações da sobrinha de apenas três anos, diante dos animais.

por meu turno, municiei-me com duas câmaras fotográficas,uma Canon jurássica, minha predileta, e outra digital, a qual não sei ainda usar muito bem. Afinal, nunca se sabe quando vai ocorrer um problema com uma delas. Pilhas recarregadas também não poderiam faltar.

Quando chegamos à casa da minha sobrinha Paula e do marido Leandro, os quatros já estavam a nossa espera. Sim! Quatro. Não posso esquecer a pequena Luisa, de apenas 5 meses, uma bebezinha linda, tranqüila e risonha.

Pelo caminho a Sofia não parava de tagarelar. Perguntava de minuto a minuto se já estávamos no jardim zoológico. Lá chegando, já na entrada, vimos uns homens vestidos com roupas de palhaço. Suas caras pintadas e os narizes de tomate maduro, não intimidaram, como pensávamos, à Sofia. Também, ela não perde o programa da Xuxa, e outros do gênero, na TV.

Nossa primeira visita foi aos elefantes, é claro. Também com todo aquele tamanho e colocados bem na entrada do Jardim, é impossível não vê-los logo. O casal passeava pra lá e pra cá, trocando afagos com as trombas empoeiradas. O primeiro comentário da Sofia foi:

_O elefante é sujo, ele é gandi!

E para confirmar a observação da pequena, os dois pegaram barro do chão e jogaram sobre as próprias costas. Em seguida, como se soubessem que eram observados, se puseram de frente um para o outro e com as trombas unidas, fizeram desenhos no ar. Pareciam bibelôs, desses que se são vendidos, nas lojas de 1,99. Isto mereceu outra exclamação de Sofia, que apontava com o pequeno dedo indicador, os enormes paquidermes:

_ Eles tão beijando! O elefante beija!

Naquele momento, veio-me à lembrança a primeira vez que eu e minha irmã caçula, com a mesma idade da Sofia, viemos ao zoológico. Agora eu estava ali, com a neta da minha irmã caçula. Naquele tempo, poucos animais viviam no jardim. Mas a Nelly, a elefante, já estava aqui. Eu tinha 13 anos, e ao vê-la, confesso que fiquei decepcionada. Era a primeira vez que eu via um elefante de verdade. Me senti enganada. O Dumbo, o elefante de Walt Disney, era colorido. Por que razão o "nosso" elefante não podia ser? E ali, diante da casa da Nelly, nasceu em mim, o sentimento de patriotismo. Por que o elefante que mandaram para o Brasil, tinha de ser enferrujado? Chateada, e sem falar com ninguém, me afastei da casa da Nelly. Não andei muito e ouvi a voz da minha irmazinha Debora, que, impressionada, puxava minha saia:

_Ilai! Ilai! - era como ela pronunciava o meu nome - Ilai! Olha que galinha tamanho!

Esqueci por um momento a minha mágoa com os estrangeiros que nos haviam mandado um elefante enferrujado e olhei na direção que o bracinho dela apontava. O que vi, fez-me cair na gargalhada. Passeando dentro de um cercado de tela, três Emas adultas e alguns filhotes, mais além. A Debora olhava para mim e não entendia o motivo daquele riso todo.

Resolvi reconsiderar minha mágoa com os estrangeiros que nos mandaram um elefante imperfeito. Mas, logo adiante, chegamos ao lago, onde os jacarés moravam. Era a primeira vez que eu via um de perto. Aquilo era intolerável. Como era possível, um produto nacional como o jacaré, não ser verde, como nas revistas da Disney? Era uma decepção atrás da outra.

Ao retornar pra casa, perguntei ao meu pai, a razão de tudo aquilo que eu havia visto e sofrido no jardim zoológico. É claro, que, por muito tempo, eu fui o motivo de chacota dos familiares. Mas a decepção com as cores dos animais, eu guardei comigo. Por que motivo os desenhistas não pintam os animais com suas cores reais? Por que fingir que o mundo é colorido?

A Sofia ainda é pequena como sua avó foi um dia, será que ela guardará alguma lembrança deste passeio? A Debora se lembra da "galinha tamanho".


Brasília, 31 de agosto de 2005
Hull de La Fuente


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