O Araguaia estava ali, a trezentos metros do casarão da chácara. As praias eram espetaculares e, em alguns trechos, prolongavam-se por quilômetros. Homens e mulheres pescavam nas águas claras, lavadeiras estendiam roupas nas areias brancas, as crianças menores brincavam na beirinha do rio, as mais afoitas usavam as pontas das canoas como trampolim e mergulhavam nas águas claras. Meninos passavam vendendo mandis, voadeiras, piaus e pacus. Donas de casa desciam o barranco para comprá-los. Tudo tão simples, tudo tão puro.
Barqueiros e canoeiros passavam pra cima e pra baixo, levando mercadorias, ou os produtos de suas roças, para serem vendidos em outras partes. Era a vida sem exigências e sem pressa. Menina e suas irmãs adoravam quando Maria podia levá-las pra nadar. Quando isto acontecia, ela corria na frente das irmãs, queria ser a primeira a ver o rio. Queria ter certeza de que as águas continuavam tranqüilas e límpidas do lado goiano. Sim, porque do lado mato-grossense, as águas eram barrentas e Menina estava convencida de que, se a Boiúna e o Negro D’água existiam, certamente era do lado barrento que eles moravam.
O fenômeno das águas barrentas, que nunca se misturavam com as águas cor de esmeraldas, era o grande enigma que Menina queria decifrar. Ninguém conseguira ainda explicar, de modo convincente, o que originava a gritante diferença. Por que rios como o Garças e o Araguaia foram se encontrar se eles não se misturavam? Os rios seriam como as pessoas que não se gostam? Até aonde levariam as águas cor de cenoura? E as águas cor de esmeralda? Onde findavam? Uma vez perguntara a Sià Doninha onde acabava o Rio Araguaia. A avó respondera que todo rio corre para o mar, mas no caso do Araguaia, ela achava que ele desaparecia num abismo encantado cheio de ouro e pedras preciosas, conduzido por um arco-íris. Abismo encantado era difícil de entender, mas os arco-íris, esses ela conhecia, eram lindos. Um deles foi depositar um pote de ouro numa poça de água, no mandiocal da chácara. Mas o pote foi enterrado muito profundo e, sem um mapa, ninguém podia achá-lo. A avó também dissera que ninguém podia se aproximar do arco-íris porque eles sugavam as pessoas. Quando isto acontecia, se a pessoa era do sexo masculino virava mulher e se era mulher virava homem. Assim sendo, era muito arriscado buscar respostas junto ao arco-íris. Um dia Menina cresceria e saberia todas as respostas.
O rio era bonito também quando não havia praia. Era um rio amigo. Na época das cheias, jamais ofereceu perigo ao casarão. Ele seguia seu curso normalmente, isto é, só aumentava a quantidade de botos e deles, Menina tinha receio, pois as estórias que a avó contava sobre eles, não eram muito atraentes. As margens dos dois rios era a coisa mais linda de se ver. Árvores de copas largas que se debruçavam para o leito, na posição de reverência eterna. Babaçus e outras palmeiras enfileiravam-se em ambas as margens. Ingazeiras frondosas e outras espécies completavam o cenário. Até mesmo o intrigante arbusto, conhecido por “Malícia”, de folhas tímidas que se fechavam quando eram tocadas, completava a paisagem ribeirinha. Menina dava importância mesmo era pras ingazeiras, por que, além dos frutos, elas emprestavam os galhos para os saltos nas águas do rio. As macaúbas também mereciam destaque. Tantos as macaúbas quanto os babaçus contribuíam com o cenário, além de servir de alimento aos bandos de araras, papagaios e curicas. Era um espetáculo único ver a exuberância do verde, atenuado pelo colorido das flores amarelas e roxas dos ipês e das quaresmeiras, árvores gigantescas, que, orgulhosas, exibiam seus buquês inacessíveis, para o alto. Como não gostar de tudo aquilo? Aquele era um jardim natural que se renovava a cada estação, só com a ajuda do jardineiro celestial.
Às vezes, à noite, do seu quarto, Menina ouvia o barulho das águas que passavam. Então o medo assaltava seu sono, preocupada não dormia. Principalmente quando ouvia o som que os botos faziam. E se não fosse um boto? E se fosse um Negro D’água saindo para respirar? Ou talvez a Boiúna? Tomada de dúvidas, nessas ocasiões ela jurava que nunca mais chegaria perto do rio. Contudo, bastava amanhecer o dia e lá estava ela, pronta para o banho no rio.
No casarão havia um quarto de banho. Porém não tinha chuveiro pelo fato de não ter água encanada. Não havia luz elétrica, também. O banho era feito em enormes bacias de alumínio, nada comparável aos mergulhos no rio Araguaia. Zico e Menina, por serem pequenos, usavam o sistema regularmente, pois não era todo dia que um adulto podia levá-los ao rio. Latide e Liviva sabiam nadar, mas não tinham permissão para levar os pequenos. Quase sempre eram levados pela mãe ou por Maria. Porém Menina preferia a companhia desta última. Maria, além de nadar muito bem, inventava brincadeiras na água.
A primeira vez que Maria inventou brincar de tronco que desce o rio, foi um desastre. A brincadeira consistia em levar Menina nas costas para longe da margem, depois Maria se deixava levar pela correnteza. Menina agarrava-se ao pescoço da moça e ficava quieta. Só de vez em quando Maria movimentava os braços. De vez em quando também, mergulhava a cabeça na água e voltava à tona soltando água pela boca. O rumor forte que ela fazia lembrava o barulho dos botos. Menina ficou com medo. O medo aumentou mais quando percebeu que os cabelos de Maria saiam enxutos da água, apenas algumas gotas ficavam brilhando em cima da carapinha da moça. Lembrou-se de que sua mãe contara que o Negro D’água morava dentro do rio, mas seus cabelos nunca molhavam. Agora ela estava distante da margem, nas costas de Maria que fazia aquele ruído parecendo um boto e cujos cabelos não molhavam.
Menina viu que irmãs nadavam não muito longe, elas ouviriam seus gritos e seria salva. Do pensamento à ação foi apenas um piscar de olhos. Começou a gritar e chorar pedindo pra Maria voltar pra junto das irmãs. Maria assustou-se com o comportamento de Menina, mesmo assim teve calma para administrar a situação. Nadou para a margem acompanhada pelas outras garotas. Elas também gritavam, queriam saber o que estava acontecendo. Liviva foi a primeira a alcançar a margem e, saltando aflita sobre as pedrinhas roliças, perguntava:
_O que foi? O que foi? Um peixe mordeu você? O que você viu? Eu também fiquei com medo.
Maria saiu da água puxando Menina, que ainda chorava e balbuciava palavras entre os soluços. Liviva aproximou-se da pequena e procurou no corpo dela algum vestígio de machucado. Não encontrando nada insistiu:
_ O que você teve? Por que está chorando assim? Responde logo, Menina!
Olhando pra Maria, Menina respondeu:
_Foi você que fez aquilo...
_Que foi qui eu fiz cun ocê, Minina? A gente só tava brincano...
_Mas você tava virando Negro D’água e eu fiquei com medo de você afundar comigo.
Liviva olhou em volta e desatou a rir, mas continuou perguntando:
_Por que você pensou que a Maria tava virando Negro D’água?
_Porque ela fez barulho com a boca, parecia um boto. Aí eu vi o cabelo dela, não tava molhado. A mamãe contou que o Negro D’água não molha o cabelo e...
Zangada, Latide interrompeu a explicação da pequena:
_Você é uma boba e chorona. Devia saber que os cabelos como os da Maria, não molham. É assim mesmo. Não molham porque são diferentes. Já pensou se todos fossem Negros D’água só porque o cabelo é assim?
Mesmo naquele momento Maria tomou a defesa de Menina:
_A Minina num teim curpa, oceis sabi. A curpa é di todo o pessoá di lá di casa. Elis vevi contano causo di bicho e di fantasma, tudo qui é santo dia. Siá Josefa mermo, é uma qui vevi fazeno medo proceis. Tudo qui é dia ela fala do Nêgo D’água, isso devi é di fazê mar pra criança piquena.
Santa e bondosa Maria! Quanta sensibilidade no coração. Nem por um segundo demonstrou ressentimento, pelo contrário, cada vez mais gostava de Menina. Às vezes, parecia até que a garota lhe pertencia, tal o cuidado com que a tratava.
Menina parou de chorar e ficou ouvindo o que a empregada dizia. Quando Maria terminou de falar, a garota já estava abraçada às pernas dela, como que pedindo perdão do medo tolo que sentira. Voltando a sorrir, Maria pegou o sabonete e o passou nos próprios cabelos, depois jogou água por cima e esfregou até cobri-los de espuma. A carapinha desapareceu no meio da espuma branca, Curiosas, as três garotas se aproximaram da moça. A espuma era abundante, mas os cabelos dela continuavam armados. Todas quiseram tocá-los pra ter certeza que estavam realmente molhados. Em seguida Maria mergulhou e a espuma veio à tona e seguiu acompanhando a correnteza do Araguaia. Parecia uma porção de clara em neve. A moça surgiu um pouco mais adiante e de lá levantou o braço e acenou para as três meninas. O sorriso dela era largo, cheio de dentes brancos. De onde estava gritou pra que elas a ouvissem:
_ Oceis tão veno? Sô eu mermo qui tô aqui. Eu num viro nada, eu num viro bicho ruim.
Menina sentiu um desconforto enorme, que, só depois de algum tempo, descobriu que era vergonha de si mesma. A nobreza de Maria foi a primeira virtude humana que ela conheceu.
As ingazeiras estavam carregadas de favas. Não havia nada mais divertido e gostoso do que colher os frutos nos galhos mais altos das árvores, principalmente dos galhos que pendiam para o rio. Pra divertir os irmãos, Liviva subia com agilidade na árvore e de lá de cima jogava as favas amarelo-limão, para eles. Depois, imitando palhaço, fingia que perdia o equilíbrio, se deixava cair na correnteza do rio, nadava e voltava a subir na árvore, recomeçando tudo. Menina e Zico assistiam invejosos à exibição da irmã. Eles não sabiam nadar. Se ao menos alguém ficasse dentro do rio esperando pra segurá-los quando eles saltassem... Seria muito bom, assim não se afogariam. Mas quem faria isso por eles? Maria não se atrevia porque achava a brincadeira perigosa. Para sorte de Zico e Menina, um dia, quando chegaram para o banho, encontraram o tio Antônio nadando no rio. O rapaz atendeu à súplica dos pequenos e ficou em baixo da ingazeira, enquanto eles subiam na árvore. Zico subiu na frente, num galho não muito alto e de lá pulou na água. Menina observou o irmão afundar de pernas no rio. Quando a cabeça dele começou a afundar, Antônio o segurou com ambas as mãos e o ergueu. O garoto tossiu forte e cuspiu água. O tio ensinou-o a mergulhar de boca fechada e prender a respiração, quando mergulhasse. Menina ouviu a recomendação e fez o que o tio recomendou: fechou a boca, prendeu o nariz com os dedos e mergulhou. Foi um mergulho com os olhos abertos, pois queria ver como era o fundo do rio. Infelizmente o tio foi mais rápido, não lhe deu tempo pra ver nada. Enquanto o rapaz a conduzia para a margem, pediu que o tio a deixasse ver o fundo do rio, no próximo salto. Antônio sorriu da ousadia dela. Zico se encontrava no trampolim do segundo galho, de lá gritava para a irmã andar depressa, pois ele queria saltar outra vez. Sentada sobre um tronco de árvore, Maria observava a algazarra das crianças. Menina passou por ela e disse:
_Maria! Fica olhando porque eu vou subir mais alto ainda. Vou saltar lá do galho que a Liviva salta. Tá?
A moça se prontificou a olhar e recomendou:
_ Mais ocê tenha cuidado! A irmã doceis é mais grande, já tá custumada de fazê isso.
Nesse meio tempo Zico já havia saltado e Antônio o estava trazendo para a margem. Menina subiu apressada para o ponto de onde sua irmã costumava saltar. Então, por entre a folhagem, viu a ameaçadora criatura que a aguardava no galho escolhido. Seu coração disparou, o corpo tremeu e ela ficou ali, paralisada, agarrada aos galhos, não tirava os olhos do ponto onde estava o pavoroso animal. Zico estava subindo de novo na árvore. Antônio percebeu que ela não se movia e gritou lá de baixo.
_Hei! Lagartinha de fogo! O que você está fazendo aí como uma lagartixa com a barriga agarrada no tronco? Não vai saltar mais não, é? O Zico tá ganhando de você. Vamos lá, não tenho muito tempo pra ficar aqui na água esperando, não.
Maria aproximou-se da ingazeira e também falou com ela.
_Ocê escuitou seu tio. Sarta logo. Eu tenho de lavá seus cabelo e dispois vortá pra modi eu fazê a janta.
O pavor que tomava conta dela era maior do que os apelos deles. Antônio, pra ver se a sobrinha se decidia sair de onde estava, ameaçou ir embora e deixá-la na árvore. A ameaça a despertou do torpor e o grito de pavor se fez ouvir:
_J A C A R É! Aqui tem um jacarééééé´!
Antônio saiu correndo da água, Zico desceu apressado do galho em que estava, deu um pulo na direção de Maria que o agarrou no ar. Segurando o menino, a moça aproximou-se mais do tronco da árvore e falou:
_Dondi foi que ocê tirou essa idéia, Minina? Tá veno coisa? Jacaré num sobi ni pau. Devi de sê quarqué calango grandi que taí.
Menina contestou:
_É um jacaré sim, Se eu me mexer, ele me pega.
Antônio subiu na ingazeira e quando chegou perto da sobrinha, falou em tom mais baixo:
_Eu estou vendo ele. Está se disfarçando entre as folhas mais verdes.
Novamente Maria falou:
_ Oceis tá tudo maluco, é? Será qui trepá nesse pé de ingá faiz perdê o tino? Ondi já si viu jacaré incima di pau.
Antônio respondeu à moça.
_Eu não disse que era um jacaré. Eu disse que tem uma coisa enorme aqui entre as folhas verdes. Primeiro eu vou tirar a Menina daqui e depois expulso o bicho.
Antônio apoiou a mão esquerda num galho e com a direita agarrou Menina e depositou-a num galho inferior. Embora estivesse tremendo de medo, a garota desceu pelos galhos e foi juntar-se à Maria e ao irmão. Zico quis saber como era o jacaré.
_Moço como é o jacaré que você viu?
_ É um jacaré bem verde, com um monte de serras do pescoço até a ponta do rabo. Ele tem um papo que não pára de bater, tem também brincos pendurados no lugar das orelhas.
_Ele viu você?
_Viu sim. Aqueles olhos ficavam girando na cabeça dele. Se eu me mexesse, ele me pegava.
_Eu acho que não quero mais subir na árvore não - disse o garoto.
Lá de cima Antônio pediu pra Maria jogar um pedaço de pau pra ele usar contra o animal. Maria foi seguida pelas crianças, até uma árvore trazida pela enchente e quebrou uma vareta comprida. Os pequenos ficaram esperando lá no tronco enquanto ela entregava a vareta ao rapaz e o advertia:
_É mió vosmicê dexá o seja-lá-que-fô im paiz. Vosmicê pensa qui bicho teim medo di pau?
_Eu só quero expulsá-lo daqui. Assim os meninos vão poder brincar sem medo. Eu já sei que é um camaleão enorme. Nunca vi um assim tão grande.
_Vosmicê tomi tento. Cum bicho num si brinca. U bicho tá na casa deli, é mió largá mão dissu.
_Não se preocupe, Maria. Quando ele pular pra outra árvore, ou descer, nós vamos embora.
_Sei dissu não. Isso num vai dá risurtado bom. Eu vou pra adjunto dus minino isperá. Nun quero sabê di luta cum calamião.
Antônio segurou-se melhor nos galhos e deixou o tronco livre para o camaleão descer. Depois, olhou para o galho onde o bicho estava. O animal se encontrava a um metro acima da cabeça dele. Antônio considerou aquela distância suficientemente segura para cutucá-lo com o bastão improvisado. Em seguida, com a vareta de pontas lascadas, cutucou a gorda barriga do camaleão. Quando o bicho sentiu a estocada agressiva, voltou-se em direção da vara e por ela, num salto velocíssimo, pulou nas costas de Antônio. Assustado, ele agarrou-se mais fortemente no galho. O animal desceu por seus ombros e deu-lhe duas bandeiradas com a cauda espinhosa. Uma delas atingiu a orelha e parte do lado esquerdo do rosto do rapaz. O contato com a pele escamosa e fria aterrorizou Antônio, quê, assustado, deixou escapar um grito de dor.
O camaleão desceu correndo da árvore. Maria e os meninos viram apavorados o camaleão embrenhar-se na mata. Os olhos de Zico de tão arregalados, pareciam maiores do que eram na realidade. Ele e Menina começaram a gritar. Maria tentava acalmá-los e ao mesmo tempo chamava por Antônio, preocupada por ele. O rapaz desceu da ingazeira e os três correram pra junto dele. O rapaz tinha as costas e o rosto machucado. As unhas e as serras da cauda do camaleão deixaram alguns arranhões sérios. Maria aconselhou-o a lavar os ferimentos com sabonete, para prevenir inflamação. Antônio mergulhou nas águas e voltou rápido pra margem. Os ferimentos ardiam e ele não deixou a moça passar o sabonete em suas costas. Preferiu voltar pra casa, Siá Doninha saberia cuidar melhor dele. Maria lembrou que devia ainda lavar os cabelos de Menina, mas achou prudente fazê-lo em casa, no banho de bacia.
Antônio precisou ser medicado no hospital, porque ninguém sabia se o animal era venenoso ou não. Ao voltar pra casa, ele contou que o médico explicara serem os camaleões, répteis sáurios, herbívoros. Que só atacam quando provocados, como fez Antônio. As crianças adoraram conhecer aquelas palavras novas. RÉPTIL! SÁURIOS! Era demais. As duas palavras mereceram uma corrida à enciclopédia. Liviva e Latide correram pra pegar o livro. Menina e Zico foram atrás das irmãs, queriam também conhecer mais sobre o assunto. Zico pulava numa perna só em volta da mesa onde as irmãs pesquisavam. A palavra nova despertara o entusiasmo do garoto que cantava: “lá, lá, lá r e p i t i u , lá, lá, lá, r e p i t i u...” Até que a irmã mais velha o corrigiu.
_Não seja bobo, Zico! O nome é réptil!
Nesse meio tempo, Liviva já havia localizado a página referente aos répteis. Ficaram todos admirados com as figuras de tantos lagartos das mais variadas formas. Mas, o que realmente chamou a atenção deles, foram os grandes dinossauros. Latide leu para eles o capítulo sobre a espécie, e de como eles teriam desaparecido da terra. Menina ouviu em silêncio e concluiu que nem todos eles haviam desaparecido. Muitos, só haviam encolhido de tamanho. Aquele camaleão era a prova disso. O episódio daquele dia marcou o comportamento dela frente aos répteis, até as lagartixas que andavam nas paredes, passaram a ser suspeitas, eram vistas com desconfiança. Quem podia garantir que elas não iam transformar-se num daqueles monstros pré-históricos?
Antônio curou-se dos ferimentos. A rotina dos banhos no rio não foi alterada. Nenhum monstro foi capaz de intimidar as crianças, que viveram muitas outras aventuras, às margens e nas águas do Araguaia.