Manabu Aoki entregou o centro ao jovem Kavako Tomi, num dia bonito, fim de tarde, ao meio caminho do ano da graça de 42 DC.
A corte, carregada de esperança, compareceu em peso a luxuosa solenidade. Ouviram-se discursos. Manabu, gaguejante, trêmulo, cenho franzido, como quem está entregando o ouro ao seu maior inimigo. Kavoko, entusiasmado, pleno de vaidade, prometendo mundo e fundos.
Mas, naquele instante, como uma bando de peregrinos, os componentes do grupo arrancava do peito os últimos estertores de esperança, pois tinha sido um tempo de terror o reinado de Manabu, acolitado por Hibumiru e a megera, que transformara aqueles dias em tormento, medo, desespero, intranqulidade, desconfiança, ódio e desilusão.
Qualquer um será melhor que ele. Mudar é necessário. Vamos confiar em Deus, pois ele jamais abandona os seus filhos. Era os comentários mais ouvidos.
Pessoas que andavam escondidas, temendo represálias, apareciam de repente, rindo sem um motivo aparente, porque guardavam no subconsciente uma vontade insopitável de soltar as amarras, deixar o barco singrar as águas tornadas mais calmas, pelo menos, na aparência.
Tomiko, velho conhecedor dos segredos do Reino, havia vaticinado: "Nada será como antes.Ele espalhou aqui o pono da discórdia, a semente da desagregação e, para que as coisas voltem ao estado de antes serão necessárias muitas luas cheias, até que se atinja um plenilúnio verdadeiro, livre das sombras que o senhor do mal andou colocando em nosso firmamento."
E os meses mostraram que o velho tinha razão. Kavako revelou-se um fraco, dominado pelo hábil Gurudu, que ficou com grande poder nas mãos, indicando afilhados para os postos de maior relevo no Reino.
Nem sempre as coisas mudam quando aparentam mudar. Há certas mudanças que são efeitos de presdigitação e, na realidade, mostram-se fórmulas de permanência do antigo, apenas com roupagem diferente.