Usina de Letras
Usina de Letras
94 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62582 )
Cartas ( 21339)
Contos (13279)
Cordel (10457)
Crônicas (22550)
Discursos (3244)
Ensaios - (10499)
Erótico (13582)
Frases (50953)
Humor (20093)
Infantil (5516)
Infanto Juvenil (4840)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1377)
Poesias (140979)
Redação (3332)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1963)
Textos Religiosos/Sermões (6271)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->COISA DOS DEUSES (receita de bebidinha) -- 08/01/2001 - 12:29 (Mario Jacoud) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Ela voltou diferente”. Foi só o que ele pensou quando a viu chegar. Entrou batendo a porta, beijou-o no rosto com o cotidiano “como foi o seu dia” e, sem esperar pela resposta, foi para o quarto do apartamento. Tudo no mesmo horário e exatamente como ontem, porem havia algo diferente, alguma coisa que ele não identificava.
Da sala ouviu todos os ruídos de sempre: “jogou a bolsa na cama......sentou.....tirou o sapato....abriu o armário....passos no corredor....porta do banheiro”. Nada demais. Não via nem ouvia o jornal na televisão. A repetição diária dos mesmos sons e imagens transformara o olhar atento em vazio e o sempre falante em quase mudo. E, agora, esses malditos ruídos...Nada de música, cinema, teatro, livros. O sol era a repartição, a lua o pijama.
O telefone toca, dois toques. Toca novamente. Ela passa apressada em frente ao noticiário e atende: “não...mais tarde...amanhã, então,,,”. Sorri para ele, senta ao seu lado, encosta a cabeça no seu ombro e ele suspende o braço, ela desliza até o seu peito e descansa a mão na sua barriga, ele a aperta com suavidade e faz um carinho no seu rosto, ela o beija.
Como ontem, igual amanhã...ã...não como ontem, diferente, língua, sabor, sensual, mel, volúpia, calor, língua, mão, fogo, língua, mãos, bocas, sim, odor, umidade, língua, sexo, boca, sexobocabocasexo...ai.”
Quietos, calmos, ela acaricia seu peito, coxa sobre coxa, ele beija seus cabelos e aspira o perfume natural que ela exala. Silencio, cansaço, falaram tanto e de suas bocas não se ouviu uma palavra. Ela levanta, ele olha seu corpo, examina, analisa, admira, deseja, cobiça.
Ela vai para a cozinha e ele já pode ouvir outros sons: “porta da geladeira....garrafa....copo....gelo”. Ele lembra: “copo curto....duas pedras de gelo, uma sobre a outra.....meio limão, gota por gota no topo do gelo....uísque, uma dose, suavemente sobre o gelo.....retira o gelo, sem mexer”.
Ela volta, um gole cada um, e se beijam juntando à bebida o gosto que o sexo deixou em sua bocas. Ele sai, levando o copo, vai ao quarto em busca do último componente da sua bebida. Acende o cachimbo quase esquecido e senta na cama, saboreia a mistura de fumo, saliva, gozo, uísque e limão. Está definitivamente convencido de que algo mudou, sabe que amanhã será tudo diferente, novos e bons amigos, novo e ótimo trabalho, até vai passar pelo bar e conversar sobre futebol, vai naquela loja onde, não lembra quando, viu um vestido, vai na loja onde, não lembra quando, viu uma lingerie e.....vê a bolsa sobre a cama: “ela está diferente”. A bolsa está aberta: “ o amor estava escondido, lá dentro dela, mas voltou”. Amanhã vida nova. A bolsa aberta, a bolsa de ontem, de hoje e, quem sabe, de amanhã...Espalha os objetos na cama, um papel dobrado: “.........seu gosto ainda está em minha boca........ a cama desfeita guarda seu cheiro.....ä noite ligo....sabe, dois toques....amor”. Ódio. Óbvio. Dor morte, traição...Proposital, óbvio...
Ele ouve passos, ela vem...ele puxa a fumaça com força, como se fosse a última tragada. Pega o copo e bebe o que resta, o que resta de tudo, rápida e decididamente, como os que se envenenam.
Fumo....saliva....limão.......uísque.......gozo.
Morte.....dor.....ódio....rancor.....perdão.
Fumomortesalivadorlimãoódiouísquerancorgozoperdão.
Devolve o papel à bolsa, ela entra e ainda vê seu movimento, beijam-se com paixão e, abraçados, adormecem. Amanhã será o segundo dos novos dias.
Coisa dos deuses...

Mário Jacoud










Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui