Os dois irmãos eram diferentes em tudo: Ruy era alvo, aloirado, alto, olhos claros, esbelto, calado, pensativo, difícil de transmitir seus sentimentos,tinha poucos amigos, mas os conservava desde quando travava relacionamento. Roberto era moreno, baixo, mais para gorducho, olhos escuros, risonho, comunicativo, sempre às voltas com um grande círculo de amizades, mais ou menos episódicas, falava, como se costuma dizer, "pelos cotovelos".
Roberto era a cara do pai, só que herdara o temperamento da mãe, d. Júlia, mulher alta, esbelta, aloirada, olhos claros e que, ao contrário do filho Ruy, era tagarela, sabia fazer amizades por onde quer que andasse.
Ruy, o taciturno, era ver o rosto e o corpo da mãe, mas, por dentro, saíra ao pai, Dr. Renato, homem voltado para as letras, caladão, extremamente reservado.
Mas, era muito estranho, ao que parece por força de uma lei que diz que os opostos se atraem, Dr. Renato tinha uma enorme afinidade com Roberto, trocavam muitas idéias, sendo comum surpreender os dois: Roberto falando, gesticulando e o Dr. Renato, atecioso, escutando horas a fio, mas sem dizer palavra. Enquanto isso, D. Júlia conversava muito com Ruy, contava-lhe as experiências do dia-a-dia, enquanto o rapaz escutava demorada e atenciosamente.
E assim iam levando a vida os três, dentro das fronteiras de um mundo que se harmonizava no equilíbrio caprichoso dos contrastes.
Quando Roberto queria alguma coisa com a mãe, fazia de Ruy e seu porta-voz e sempre que Ruy tinha algo a pediur ao pai era através de Roberto que mandava os seus recados.
O mais surpreendente de tudo foi quando eles ingressaram na vida adulta, atingindo a maioridade: Roberto entrou para o seminário e Ruy candidatou-se a prefeito da cidade onde os pais nasceram.
É difícil julgar as pessoas por seu temperamento!