Aquele era o momento apropriado. O momento devido. Meu cérebro parecia querer explodir de tanto pensar, na minha cabeça não circulavam outros pensamentos, já não podia mais esperar, aquele era o momento crucial.
O dia parecia conspirar para a minha decisão, levantei da cama cedo, coisa que não estava habituado a fazer, precipitei-me do quarto e não eram nem seis horas. Fui até a porta de casa, observei algumas pessoas que estavam transitando, olhei para o céu, o sol começava a mostrar os seus primeiros raios, o principio de mais um dia estava se revelando. Passei por toda a manhã com a mesma sensação: de final de dia. A noite veio e os pensamentos se tornaram cada vez mais intensos, meu coração saltitava de tanta ansiedade, então resolvir andar um pouco e sem perceber lá estava a espreita, posicionei-me em um canto mal iluminado e lá fiquei parado, quase imóvel.
Apesar do dia ensolarado, àquela noite o frio veio cortar a minha alma sentia os meus dedos congelando apanhei um pedaço de madeira que estava jogado ao chão. Segurei-o tão firme que aquele objeto parecia parte de mim, parecia uma extensão dos meus braços e os meus olhos fitavam ao longe uma tênue claridade, claridade suficiente para ver o meu algoz. Já havia perdido o tempo exato de quando tudo havia começado, mas sentia que não poderia voltar atrás, a decisão já tinha sido tomada, voltar seria naquele momento um erro, um sinal de fraqueza. Por um minuto sentir-me confuso, pensamentos que se misturavam em minha cabeça no mesmo instante que tramava como seria a minha abordagem, perguntava-me como seria o depois, será que alguém vai sentir falta, será que alguém espera por ele? E todas as interrogativas afugentaram-se quanto o vir aproximando-se. Seu andar parecia não mais preciso, talvez, pressentisse o que iria lhe acontecer, minhas mãos apertaram (um ato involuntário) ainda mais o pedaço de madeira e agora o único pensamento era como seria desferido golpe. Ele parou ao longe, parece realmente que sabia do intento, ficou olhando para os lados procurando algo, porém não sabia o que procurar; algo nas sombras talvez. Ele hesitou por um momento. Já não agüentava mais a espera. Pensei em partir como um louco e surpreende-lo, mas estava muito longe, certamente correria. Não era um bom estrategista, não havia planejado nada que houvesse dado certo em toda a minha vida, talvez agora não fosse a hora de planos e sim de agir, ser mais impulsivo, menos comedido. Talvez esse tenha sido o meu grande erro, pensar que todas as fórmulas lavassem sempre aos mesmos resultados, querer ser parte das variações sobre o mesmo tema. Mas como desmontar o castelo construído com tanto empenho, ser tão perfeito em nuvens de desespero, ser tão brilhante em cascatas de erros? Essa emboscada é o elo que se romperá desvencilhando-me de todos os pensamentos anacrônico futuristas. Precisava interagir com a dor, o sentimento mais puro que existe, emoção que fizeram os românticos atravessarem os séculos; o com que little girl blues brilhasse na voz de Janis Joplin, precisava morrer e nascer outra vez.
Os pensamentos afugentaram-se quando o meu verdugo aproximou-se, antes que ele percebesse a minha presença postei-me diante de sua figura. O pedaço de madeira riscou a noite e o golpe atingiu violentamente sua fronte fazendo-o cair inane. Tudo não durou mais que 10 segundos e eu estava diante do corpo sem vida, o seu sangue banhou rapidamente o chão que jazia. Olhei mais uma vez o rosto (como num espelho, uma figura habitual, o meu rosto) inerte. Deixo-o para traz, junto com ele tudo que não quis ser. Finalmente, renasci e estou voltando para casa.
Castro D’mar
(Idelmar de Oliveira)
www.oataque.zip.net