-- Rosinha, se apresse com a lição e vem me ajudar na cozinha, menina...
“ Menina Rosa, quero que meus olhos queimem se já olhei para outra do jeito que olho para você. Que minha boca seque se já beijei uma boca como a sua. Que minhas mãos paralisem se já tocaram outro corpo tão belo como o seu. Como tremo, Rosinha, só de lembrar na pintinha do seio, uma miudeza que nunca se viu...”
--A vida não é só escola, tarefa de casa e rua. Logo começa a namorar, depois casa e não sabe nem lavar sua roupa...
“Sua roupa molhada pela chuva ainda está na minha lembrança. Dois pontinhos de prazer na blusa branca. Dois pontinhos tirando meu sono. Insônia, como se eu fosse o pior dos pecadores. Qual santo não pecaria vendo sua língua passear pelos lábios? Ah, como me provoca a penugem que desce do umbigo...”
--Se seu pai ainda estivesse aqui, tudo seria diferente. Ele não aceitaria esse seu pouco caso, isso de não fazer nada...
“Nada se compara ao sorriso que você traz nos olhos, Rosinha. É como se toda a felicidade do mundo morasse neles. Duas luzes azuis no meu quarto escuro, sorrindo e amando, olhos que parecem querer me beijar, gulosos e sorridentes como só você pode ter, minha lindinha...”
--Os tempos mudaram, e para pior. Na sua idade eu fazia todo o serviço de casa e ainda cuidava dos pequenos. Só não pude estudar, não me sobrava um minuto...
“Um minuto de amor com você vale toda a vida. Um sonho de vida, quinze anos e já tão mulher. Há de ter muitos sonhos, Rosinha, como eu que sonho com sua voz, a boca colada em meu ouvido, sussurrando prazeres, falando de desejos, quantos ais sairão da sua boquinha...”
--Vem logo, pelo menos me ajuda a por a mesa....
“A mesa, primeira testemunha do nosso amor, peixe maltratando meu olfato, pimenta em meus lábios, vinho e pão, sonho e vida, doce de leite, beijos misturando sabores. Botões da blusa, latejando, vivos, meu Deus, pernas abraçando, gritos, prazer, toalha, lençol, alimento...”
--Tres pratos, alguns talheres, não é muito serviço. Pegue o vinho...
“O vinho descendo, vermelho e branco, enfeitando seu corpo, lábios, bocas, línguas, sexo. Sempre há de ver essas cores, cores da paixão, do prazer, minha menina. Que gosto bom, segredo em minha boca, tinto e branco. Cores suas, cores minhas, nossas. Ácido, doce...”
--Vamos, Rosinha, põe pressa nisso. Ele já vai chegar. Se ao menos o chamasse de pai, por respeito...
“Respeito sua mocidade, respeito seu futuro, mas meu desejo é de hoje, não tem amanhã. Meu amanhã é curto, mocinha, o que eu sinto é de hoje, é de ontem. Quero deixar marcas de ontem e de hoje, marcas do seu amanhã...”
--Vamos, prepare o banheiro, sabe que ele gosta de banho antes do almoço, troque a toalha...
“A toalha, meu amor, vem com seu cheiro, seu cheiro enxuga meu corpo e limpa minha alma...”
