Acordei com uma picada de agulha. Estava agora num leito de hospital. Médicos e enfermeiras andando prá lá e prá cá. Tentei falar alguma coisa, mas não consegui. Fraco demais. Muito fraco. “Ele passou por severas privações, sentiu fome e sede. As torturas lhe causaram muitos danos físicos, entretanto não é possível mensurar os danos psicológicos. Ele chegou aqui há três dias e há três dias dorme profundamente. Os paramédicos encontraram um bilhete pregado com uma tachinha em seu peito”. Ouvi o médico ler o tal bilhete. “Assim como se diz que a onipotência divina atrai as criaturas para si, assim também a potência satânica e imaginária tudo atrai para dentro de sua impotência, eis aí o segredo de seu domínio. Adorno e Horkheimer”.
O médico foi embora e pude sentir a mãozinha idosa e doce acariciando minha fronte. A febre baixou
desde então, mas um outro calor aqueceu o que restou de minha carcaça, o calor do poder, o poder
que gera medo, intimidação, pavor. (Continua na próxima semana).