A primeira coisa que meus olhos viram foi um grupo de pássaros voando bucólicamente, buscando seu recanto num final de dia cor-de-rosa. Depois percebi que os pássaros desaparareceram na parede quando a janela acabou, também me dei conta de que aquele enquadramento era meu único contato com o mundo lá fora. Confesso que senti uma inveja absurda dos pássaros, com aquela alegoria em “v” cruzando o céu. Nunca ninguém importunou os pássaros pelo fato de voarem, nunca ninguém imaginou extirpar as asas dos pássaros.
Já longe do hospital e das luzes, acalmei-me. Embora entrevado num leito, aquele quarto trouxe-me certo conforto, emanava ele um cheiro de esperança que invadia meu inconsciente com comoção. Só que eu não sabia que quarto era aquele e onde escondidas estavam minhas remotas memórias. A única coisa que sei é que durante meu sono alguém aparecia, parecendo preocupar-se com o estado das coisas. “Meu anjo, descanse. Sua vez esta próxima. Tudo dói muito, mas a concepção do mundo é assim mesmo”.