Parou de escrever. Lembrou-se de olhar a lista do que fazer e ligou o telefone. Do outro lado da linha: "Que saudade! Foi tão bom ouvir sua voz novamente"
Aquela voz inconfundível, terna, doce, trouxe-lhe recordações de um tempo tempestuoso, carregado de tentações, quando desejou se perder pelos descaminhos da vida.
Mas, ciente das armadilhas das quais se livrou, Pôs as emoções em ordem e procurou dar um tom profissional na sua voz:
Olha, eu estou lhe telefonando pára falar daquele projeto...
Ela, do outro lado, deve ter sentido o tranco:
"Sim, doutor, o projeto está muito bem encaminhado, está na fase de análise. FGoi criada uma comissão para examina-lo, cujos trabalhos estão muito adiantados. Penso que estará pronto em menos de quinze dias".
Muito obrigado. E desligou.
uando voltou à reallidade, sentiu-se estranho, pensativo, com um acervo de recordações rondando sua mente. Fechou os olhos, mas foi pior. Ela apareceu com maior nitidez na sua memória, porque a visão interior não necessita dos olhos para enxergar.
Quis ligar outra vez, confessar que ainda estava apaixonado, que sonhava com ela quase todos os dias.
Mas, lembrou-se do marido dela, dos filhos. Ele poderia ter aqueles sonhos, solteiro, desimpedido. Ela era casada, bem casada se dizia e, no entanto, vivia atraindo os seus olhares, procurava agrada-lo em tudo, adivinhar seus pensamentos, comprar guloseimas, conversar sobre tudo, preencher os vazios da sua vida de administrador solitário.
Até aquele dia, quando tiveram oportunidade de viajar sozinhos e ela, praticamente, sugeriu que dormissem juntos. E ele resistiu...Mas leva consigo o arrependimento daquela covardia pelo resto dos seus dias...