O novato chegou na repartição no mês de março depois de muitos meses de espera após ser aprovado num concurso público. Com a barba feita, gravata ajustada, cheirando a perfume e com os sapatos lustrados, causou uma boa impressão no chefe do departamento.
Agitando a perna cruzada, demonstrou-se nervoso e apreensivo, encolhido naquela cadeira na mesa do chefe. Este fumava um bom charuto, era um monumento de gordura e usava suspensórios que ajudavam a sustentar as calças. Em nenhum momento olhou para o novato, em nenhum momento disse qualquer palavra.
Depois de apreciar o currículo do moço, pediu para que a secretária levasse o novato para uma outra sala. A secretária logo lhe abriu um exuberante sorriso, deixando a formalidade bem pequena no cantinho da boca.
Na cozinha, deu café para o novato. Bateram papo, se conheceram. Depois ela comentou sobre o chefe. Disse que ele era fechado, cara feia, expressão de mau humorado, mas no fundo no fundo era um homem muito bom, que jamais havia destratado alguém. Sempre promoveu os esforçados e interessados, sempre demitiu os preguiçosos e desonestos.
Ao final do primeiro dia de trabalho o novato voltou para casa, entendendo que seu novo emprego lhe traria muita satisfação. Dormiu tranqüilo e sereno, sentido-se útil e capaz. Depois de horas sem sonhos, levantou-se, escovou os dentes, bebeu café com leite, comeu pão com manteiga, vestiu o costume e foi para a labuta do segundo dia.