VIII. O despertar para o impossível
As rochas ficaram inertes ante o corpo tombado do
anjo. A chuva não parou, continuou seu castigo
implacável durante horas. As trevas fizeram-se
presentes, densas, aterradoras, insistentes. O anjo, mergulhado numa insondável inconsciência, sonhava com os outros tempos. Épocas diferentes e inocentes, quando ele apenas pensava em voar. Sua felicidade no sonho era tão grande, que quase o matou. Lá fora as rochas, a chuva e as trevas iam o consumindo pouco a pouco.
Deus. “Ele quer muito ver você. O abismo de tristezas dele, transformou o mundo numa experiência errante e melancólica. É preciso acorda-lo para que supere as rochas insondáveis e inatingíveis de sua lógica racional. Ele precisa revê-la. É tudo que ele quer e o mundo precisa. Precisamos acorda-lo”. Mãos ternas acariciaram a fronte do alado. Depois um beijo, o fez acordar. Das profundezas da fenda de sua felicidade, emergiu para o real, para o inverossímil,
para o impossível. Disse para si mesmo.
“Hora de derrubar as rochas”.