Cheguei à Rodoviària de Ribeirão Preto às 23,30 horas.Meu ônibus partiria às 24,00 horas e a seu destino, São Paulo, levaria três horas e meia.
Me sentei no banco da plataforma de embarque ao lado de uma senhorinha. Não me informei sobre sua idade e nem indaguei sobre seu nome; seus cabelos eram loiros amarrados no feitio de um "coque";seus olhos eram azuis, de um azul bem claro; e, sua tez era bronzeada, curtida pelo sol, de quem trabalha sob o calor escaldante do interior.
Perguntei-lhe:De onde você é?
Ela respondeu:De Jataí, Goiàs.
Perguntei-lhe:Quanto tempo você vai levar viajando?
Ela respondeu:Daqui a Jataí são doze horas.
Perguntei-lhe:Qual é o ônibus que você vai tomar?
Ela respondeu:Este ônibus que vem do Rio de Janeiro e já está atrasado.
Perguntei:Como você vive em Jataí?
Ela respondeu:Vivo sózinha, cuidando da roça que meus pais me deixaram.
Perguntei:Você é feliz com o que faz?
Ela respondeu:NÃO, sinto muita solidão."Há poucos minutos de felicidade durante a vida toda; são gotas de alegria num rio de tristezas".
Assim que meu ônibus chegou à plataforma de embarque, me despedi dela,mas fiquei com sua imagem retida na minha mente.A caminho do meu destino, na estrada escura, a lua cheia iluminava a paisagem e sombreava as imagens.Muito triste, dentro do ônibus, enquanto a maioria dos passageiros dormiam, minhas lágrimas rolavam e escorriam pela face. Então, eu soluçava como uma criança medrosa, insegura e perdida dentro da solidão amarelecida pelo encontro de duas almas curtidas pela vida.