Bruno cansado sai do trabalho às seis da tarde. Tarde. Final de tarde. Começo de noite. Bruno estressado já começa a ficar com medo dentro de seu carro novo novinho. Tenta, sem resultado, afastar os pensamentos inoportunos que insistem em trafegar por sua cabeça. E se morresse agora? E se fosse assaltado? Seqüestrado? Abduzido? Sei lá!
Seu carro novo novinho não quer saber de entretanto. Segue firme seu caminho. Levando dentro de si este filhinho da mamãe. Não para por nada. Por sorte, nenhum obstáculo. O carro novo novinho. Quinhentos quilômetros por hora e Bruno tenta permanecer tranqüilo, com a bunda perfeitamente aderida ao assento anatômico.
Até quando poderia aguentar mais aquilo. Tantas angústias. Tantas preocupações e a vontade de vomitar a todo o momento. De vomitar a própria vida. A própria impotência diante da vida. Sair de casa e não saber se volta. Voltar para casa e não saber se chega. Mãe, estou bem! Estes são os pequenos cotidianos que fazem a classe média perder o sono. Bruno há tempos não dorme como um rei.
Farol do carro ligado, Bruno e seu carro novo novinho vão rastreando o asfalto em pedaços, na velocidade que lhes é permitida. Bruno quer chegar em casa intacto, mesmo que seu carro novo novinho não chegue. Buracos e mais buracos em que despenca, o carro novo novinho já não se mostra assim tão novinho, talvez novo.
Mais a frente. Poucos metros a frente. Logo ali tão adiante. Um sinal. O sinal. Verde. Talvez no... Amarelo. Bruno. O carro novo nem tão novinho. Bruno. Seu pé e o acelerador. Arranha marcha. Arranha o ouvido. Bruno. Quer chegar. Acha que consegue. Vermelho. Não consegue. Bruno não consegue. E agora?