Relatamos aqui a história de uma jovem que desejava muito ser mãe.
Como todas as pessoas, ela também tinha suas limitações. Só que ela tinha uma limitação muito forte. Ela era cega.
Alguns anos decorreram e Lourdes continuava firme pensando na realização de seu sonho.
No seu dia-a-dia, Lourdes, vítima de um glaucoma, conscientizava sobre a sua condição física e acostumava à sua nova vida. Decorou os lugares onde eram guardadas todas as coisas. Na rua com o auxílio de uma bengala aprendeu onde estavam os postes, bem assim os buracos nas calçadas e as passadeiras. Assim, podia andar sem muitas dificuldades.
Um fato interessante nos chama atenção: ela guardara na memória o semblante do moço que a pedira em casamento. Lucio, mesmo sabendo do agravamento do quadro sobre a visão de Lourdes, podendo inclusive ficar cega, nunca desistiu de seu intento.
Ambos alimentavam um amor verdadeiro e tudo encaminhava para a realização do casamento.
Por fim casaram e viviam felizes!
Ela havia pedido a Deus a graça de ser mãe.
Passaram alguns anos e ela permanecia confiante. Lourdes consciente de sua própria experiência acrescenta ao seu pedido a Deus: “que meu filho ou filha não seja deficiente visual”.
A vida continua. Lourdes estudando, cuidando da casa e Lucio trabalhando e estudando também. Ambos desenvolviam uma vida bem dinâmica. Um belo dia a esperança de Lourdes se redobra, pois descobriu que estava grávida. Acompanhando a alegria surge uma preocupação na família sobre a questão do glaucoma. Consultas foram feitas a geneticistas, mas a ciência não dava certeza a respeito, influenciando positiva ou negativamente.
Lourdes preferiu crer que a graça divina seria completa.
Os preparativos do enxoval do nenê constituíam motivação e alegria para cada dia do casal. Ela não podia ver as lindas peças de roupinha do futuro herdeiro, mas Lucio parecia ver em duplicidade, por ele e por ela, explicando cada detalhe.
Finalmente chega o Dia “D”. Lucio leva Lourdes para a maternidade. Ambos carregados de ansiedade. Depois de longas horas de espera Lourdes traz ao mundo a linda e perfeita Izabella.
Foram só festas!
Festa na família. Festa no hospital, pois o casal foi alvo de muita admiração. Por um lado a esmerada dedicação de Lucio para com sua esposa. Por outro lado, o equilibrado comportamento emocional de Lourdes no parto e como ela comemorava o recebimento da dupla graça divina – o nascimento da filha e sem nenhuma deficiência física. Era invejável seu testemunho de gratidão.
Agora, Lourdes era mãe.
Tinha responsabilidades.
Tinha que ser protetora.
No começo demonstrava certo receio. Não trocava as fraldas, por enquanto, pois temia sujar as mãos e tudo que estivesse em volta. Lucio, como sempre, estava sempre por perto e pronto para ajudá-la. Alguns dias depois ela já estava treinada, para todas as tarefas. Diante de algumas necessidades e se Lucio não estava presente, era auxiliada por sua mãe.
Lourdes se sentia uma mãe completa. Claro que estava sujeita a acidentes como qualquer outra mãe, mas lutava para conseguir autoconfiança.
Lourdes nunca vira os lindos olhos azuis de Izabella, seu rosto, os detalhes de sua beleza e todas as mudanças que iam acontecendo, mas podia sentir através do seu tato cada espaço do seu lindo corpo. Através deste olhar diferente, ela percebia o desenvolvimento que sua filha estava alcançando.
Lourdes saía sempre com Izabella e agora já podia contar com o amparo dela. Ao saírem juntas, para passear ou resolverem outros assuntos, recebiam muitos elogios e entre eles: “vocês parecem muito felizes”. E eram realmente.
Alguém certa vez aproximando das duas perguntou: “Vai ser mãe outra vez, Lourdes”? E ela respondeu com uma gargalhada de felicidade!
Através deste texto fica claro que o deficiente só é limitado se ele não tiver força de vontade ou propósito.
Na verdade o cego é aquele que não quer ver.
Lourdes e Lucio eram felizes.
Izabella era feliz. A deficiência de sua mãe não limitou o carinho e a formação familiar que recebeu de seus pais.