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Contos-->16 de fevereiro, Dia do Repórter -- 17/02/2006 - 16:47 (Evandro Carvalho da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O jovem repórter chegou no local da reportagem meia hora antes do evento. O Sol forte do verão o fez abrigar-se na padaria do Orlandini. Bebeu um cafezinho enquanto ajeitava sua monoreflex, olhou para um ponto fixo no meio da praça e pensou consigo mesmo. “Mais uma inauguração. Não agüento mais”. O jovem repórter não era um filho da pauta, por isso detestava cobrir eventos deste tipo. De repente, foi interrompido por um mendigo, que lhe pediu uma esmola. O repórter deu uma moedinha para o velho homem, que ficou eternamente grato.
O estampido dos fogos de artifício anunciou a chegada do Barão. Um carro luxuoso cercado de polícias estacionou na rua da praça, o circo já estava montado. O governador da província de Rio dos Véus inventou de colocar um busto do fundador da cidade na praça, fez questão de realizar um evento cercado de pompa e grandiosidade. Convidou de Natanael, o goleiro do Cajazeiras Futebol Clube ao Papa Domênico 34, que claro, não veio. O Barão veio, afinal era interessado em política e sentia o cheiro inconfundível do povo, embora o detestasse.
Discurso pra lá, discurso pra cá, o Barão finalmente falou. Disse ser breve nas palavras, mas discursou por quase 40 minutos. Orgasmo total para os bajuladores e puxa-sacos afins, formalismo boçal para quem só estava interessado no “arrasta pé”, o discurso do Barão foi seguido por uma salva de palmas, misto de delírio e alívio. Quando descia do palanque, o Barão foi cumprimentado pelo velho mendigo. A cara de repúdio do político foi por demais autêntica. Click! Chutado pelas polícias, o mendigo tratou de correr como um cão bernento. Pobre homem, nem queria uma moedinha, só o aperto de mão do Barão importante.
Na segunda-feira, a carta de demissão do jovem repórter já o aguardava em cima da mesa. O dono do Semanário Riovelense, que era parceiro de truco do Barão, tratou de enquadrar o repórter. Aquela foto do Barão com nojo do velho mendigo foi demais da conta. E a manchete então: “Barão não suporta cheiro do povo”.
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