O homem das cinco vezes,
era sisudo e parente do vazio,
sempre andou só e mal acompanhado,
pois sua sombra refletia em sua alma.
O homem das cinco vezes,
era ponderado ao incriminar alguém,
desarrumado, ao pedir clemência.
Sempre foi joguete do povo,
mas quem enchia os bolsos de cetim,
macio,aveludado, era ele.
O homem das cinco vezes,
sempre morou no melhor bairro
e, por isso, era completamente
desconhecido de vez.
Trabalhava com cartas marcadas,
comia do bom e do melhor
e saia bem caro
tal costume de se fartar
na mesa dos outros.
O homem das cinco vezes,
nunca perdeu uma vez - dai
o seu nome -.
Tudo ganhava e ganhava cinco vezes
em seguida.
Era plebe disfarçada, monstrinho de
papel fogado e gente que passa
rápido pela vida e não tem
nem tempo para olhar para dentro de si.
Tá cheio disso ai - de homens de cinco
vezes.
Eles são atiços e corretivos,
balcuciam somente prazer
e vivem de comesuras e
mesas fartas
e mulheres atorresmadas.
O homem de cinco vezes
quando morreu, morreu mesmo
só uma vez.
Ao seu enterro foram um
crivo sacerdote e dois coveiros
e mais dois da funerária,
para levar a caixa de madeira.
E o homem de cinco vez
por ironia do destino,
foi enterrado por cinco pessoas,
e prá ele arrumaram
uma rezadeira, que sabia chorar
cinco vezes sem parar,
mas se atropelava no
verbo de cinco rezas.
E nunca mais ninguém dele falou.
Mas diz a roda do povo,
que o maior problema agora,
lá no cemitério das Almas,
é o espírito do homem das cincos
vezes que atormenta dia e noite,
outros incautos que também morreram
do dia prá noite
na cerração da vida.
Quando chega à noite,
lá vem zoar o espírito o
homem de cinco vezes,
aos ouvidos dos que querem
dormir.
E aquele cemitério, antes,
tão calmo e sossegado
vive agora uma parnafernália,
pois o dito homem não se
conforma de ter morrido
apenas uma vez - aquele
das cinco vezes.