Faltava o chapéu! Ou seria melhor um outro adereço para ornar os seus lindos cabelos loiros que deixavam o seu semblante ainda mais doce, mais sereno, mais bonito?
Não, o chapéu cairia melhor. Ela ficaria mais elegante, mais charmosa, mais requintada. Queria estar linda mas sem extravagância. Queria chamar a atenção dele, mas sem exagero, para não cair no ridículo. Ele apreciaria chapéus? Parecia um homem adepto da simplicidade, sem abandonar a harmonia, a seriedade, a postura de um nobre. Era assim que ela queria se apresentar a ele naquele dia. Bela, cheia de graça, muito bem vestida, mas simples.
Foi pensando nisso tudo que providenciou o vestido, os sapatos, as meias, a bolsa, as jóias. Nada de pedrarias, de brilhos, de peças pesadas. Tudo muito delicado, combinando com a sua pele macia e alva, mas ligeiramente bronzeada. A maquiagem já estava perfeitamente escolhida. Faltava, portanto, apenas decidir sobre como enfeitar os cabelos, com discrição, mas muito charme. Tinha que se apresentar perfeita! Afinal de contas, aquela festa caíra do céu!
E foi com esses pensamentos que ela entrou na loja que vendia todos os tipos de adereços para a cabeça, desde o mais simples grampo com uma pequena pedrinha brilhante, até tiaras luxuosas que chegavam a pecar por excesso de brilho. E, claro, chapéus de todos os tipos, para todas as ocasiões, combinando com todos os modelos de roupas, de todas as cores e tamanhos.
Que dificuldade selecionar alguns para prová-los ante o espelho! Em determinadas estantes ela sequer pousava os olhos. Nada tinham a ver com ela e com seus objetivos. Com muito custo escolheu uns dez, mas ao colocá-los em sua cabeça, a negativa era imediata. Não combinavam com ela!
Mudou de idéia. Desistiu daquele setor da loja e passou a observar, com maior minúcia, os pequenos enfeites. Deveriam ser dourados para acompanharem as suas jóias. Hummmmm, mas dourados nos cabelos loiros, quase não apareciam! Céus! Que problema imenso! A festa seria no dia seguinte e ela já estava cansada de entrar em tantas lojas, de olhar tantas revistas buscando o complemento ideal para o seu traje.
Definitivamente não poderia optar por aquele tipo de adorno. Precisava mesmo era de um chapéu! Mas qual? Nada lhe agradava!
Fazia horas que estava ali e não se decidia. Também a vendedora já não agüentava mais de tanto ouvir: “Pegue aquele, por favor!” ... “Hum, o que acha deste?”..... “Não, não, não! Ficou horrível”! “Pegue aquele outro!”.
E já estava prestes a desistir definitivamente, quando bateu os olhos num delicado, mas extremamente elegante e discreto chapeuzinho que estava quase escondido no canto de uma das prateleiras, como se estivesse reservado para alguém ou realmente não agradasse a ninguém.
-É aquele! – apontou. Torcendo o nariz, a vendedora rezou para que fosse sim aquele o escolhido, pois já não suportava mais aquela cliente tão indecisa.
- Perfeito! É este mesmo. Pode colocá-lo na caixa e tirar a nota.
E lá foi ela, toda feliz, apesar do cansaço. Precisava dormir para estar linda no dia seguinte!
Saiu de casa exatamente da forma como sonhara. Estava maravilhosa e com o traje completo! Sem dúvida alguma aquela seria uma grande noite e certamente conquistaria o homem que tanto a encantava!
Todos os olhos masculinos pareciam fitá-la. Ela ainda não o tinha encontrado, mas sabia que viria.
De repente, sentiu as pernas bambas, o corpo tremer. Ele se aproximava para cumprimentá-la.
Elegantemente ela lhe estendeu a mão e ele se curvou beijando-a. Corrigiu o corpo e a olhou dos pés à cabeça. Ela se sentiu ruborizando e, sem saber o que dizer, fez a única pergunta que jamais deveria ter feito: “Estou bem?”.
- Maravilhosa! Mas, se me permite a sinceridade, eu odeio chapéus!