Após um dia de trabalho, depois de uma semana fora de casa, e pior, tendo sofrido uma contusão séria de coluna, resolvi sair de Nova Friburgo e viajar para Petrópolis (via Teresópolis) onde ainda moro. A distância é de aproximados 140 Km. de uma estrada como muitas por aí. Sinalização ineficaz, asfalto ruim e uma serra bastante perigosa.
Mesmo estando sozinho, resolvi voltar, mesmo sem ter as condições ideais para viajar, pois a coluna doia muito e já entrei no carro com muita dificuldade por mal poder me mexer.
Mas, afinal são duas horas de viagem, e seria melhor estar em casa para me tratar do que ficar em um hotel ou ter que me hospitalizar.
Avaliei erradamente. Logo que saí de Friburgo, por volta das quatro da tarde, começou a chover bastante. Mas, estrada vazia, com pouco trânsito e o carro em boas condições não seria difícil em chegar.
Tendo andado cerca de quarenta kilometros, o cano de descarga quebra. Isso não me empediria de chegar, mas quebrou no conector ao motor. Sendo um opala semi-novo (na época um excelente veículo), e arrastando ao chão em sentido contrário, rasgava o asfalto, chegando a freiar o carro. O barulho ficou terrível e juntando-se a isso a minha dor insuportável na coluna.
Parei o carro e lembrei ter passado por um único e solitário pôsto de combustível não mais do que duzentos metros. Para a frente era quase impossivel andar, mas em marcha ré e olhando só pelos espelhos retrovisores, retornei com cuidado e muito devagar. A coluna não parava de doer, agora então doia mais ainda. Eu quase não me movia.
No pôsto (aqueles bem do interior) o frentista, funcionário do estabelecimento me atendeu com uma enorme má vontade, quando lhe expliquei todo o meu problema que nada significou.
Sem sair do carro, pois não podia, devido a dor na coluna tentei de tudo: um telefone para me comunicar, que não tinha, um analgésico para diminuir minha dor, não tinha, ferramentas para tirar o cano de descarga, não tinha, não tinha nada!
De repente, do nada, surge um garotinho que não tinha mais que oito anos de idade e me pergunta
- Posso ajudar o Sr. Tio?
E eu, totalmente desesperançado falei o que havia acontecido e ele prontamente respondeu:
-Acho que posso ajudar o Sr.
Primeiro ele foi até a casa de um parente alí por perto (perto na roça...é longe) e me arranjou um comprimido de novalgina e um puco de água. E na vinda com ele arrastava um macaco jacaré, bem pesado para sua idade e tamanho.
- Tio, vou arranjar uma serrinha de ferro, suspendo o carro no macaco, corto o cano e o Sr. pode seguir viagem.
Eu não podia sair do carro por causa da coluna. O frentista não ajudou em nada, mas o garoto com toda a dificuldade dos seus 7 ou 8 anos, levantou o carro, cortou o cano de descarga, soltou as abraçadeiras que ainda o empediam de sair por completo e colocando aos pedaços dentro do carro
falou:
- Acho que agora dá para o senhor continuar a viagem. Só que o Sr. vai ouvir um barulho danado.
Trabalho feito, eu perguntei:
- Quanto foi o seu trabalho menino?
- Não é nada não tio, eu só fiz para lhe ajudar!
Tirei do bôlso um bom dinheiro e dei ao menino, mas a verdade é que dinheiro nenhum pagaria o que foi feito. Não foi o conserto do carro, mas a lição de solidariedade e de vida que aquele pequeno menino me deu. Não sei onde mora, qual é o seu nome, não sei mais nada. Tentei encontrá-lo por outras vezes, mas ninguem por ali o conhesse...Prefiro chamá-lo de ANJO, simplesmente ANJO DA GUARDA!
Obs.: Quando cheguei em Petrópolis não consegui sair do carro e, fiquei acamado em tratamento durante pelo menos 30 dias.