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Contos-->A ÚLTIMA VIAGEM -- 26/09/2006 - 00:39 (Maria dos Santos Louça Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Última Viagem

Depois de um cansativo dia de trabalho, Julio volta para casa com aquela preocupação de reencontrar bem sua esposa e seus filhos.
Na cidade grande sabe-se quando sai de casa, mas nunca se sabe exatamente quando chega, em face o trânsito intenso, às vezes até congestionado, pela ocorrência de algum acidente.
Ele mora em Luzarina e trabalha em Belo Horizonte - MG., numa subestação da Linha Férrea RRFSA. Faz esse percurso de 200 Km diariamente, há alguns anos. O meio de transporte mais acessível financeiramente para Júlio é através do velho Trem de Ferro.
Julio saíra de seu trabalho com destino à sua cidade e como ele muitos outros procuravam esse meio de transporte seguro e econômico.
O trem balança e alguns passageiros até cochilam, cansados pela labuta do dia.
Depois de algum tempo de viagem, Júlio, felizmente conseguiu um lugar para se sentar. Alguns dos seus companheiros de trabalho ficaram na primeira estação. Ele prossegue viagem, pois desceria na última estação, ou seja, em Luzarina, onde tomaria outra condução, um ônibus talvez ou uma Van que o levaria até a sua casa.
Durante a viagem e em meio tantas pessoas, nosso personagem observa jovens e adultos numa movimentação permanente, pois o Trem estava cheio. Entre essas muitas pessoas ele destaca um rosto de mulher. Seu semblante lhe chamou a atenção tendo em vista a ansiedade que refletia. Tinha sobre seus ombros uma sacola de plástico com alguns poucos pertences.
Aquela mulher, de certa forma chamou tanto a atenção de Julio que não mais a perdeu de vista e em seguida observa em suas mãos uma lanterna. Ela esticava seu braço como quem queria focalizar, em cada parada, alguém que parecia estar procurando.
Em cada parada, por mais rápida que fosse aquela mulher avidamente procurava alguém.
Para se seguir o desenvolver dos acontecimentos, é preciso deixar fluirem os pensamentos e cumprir o que está estabelecido. É preciso ter coragem e abrir mão de valores. É preciso aceitar as novas maneiras de ser e estar. Para se seguir a trilha traçada, além de coragem é preciso ter fé, disciplina, sabedoria e paciência. Aprendendo vivemos, e vivendo estamos a aprender. Você precisa ser você mesmo, isto é, ser autêntico.
Júlio, no trajeto desta sua viagem não parou de preocupar com aquela mulher, que até então não sabia quem era e quem ela tanto procurava. Seria um filho, o marido ou outro familiar?
A mulher, por sua vez ignorava a presença de Julio, pois seu pensamento estava na pessoa de sua procura, no possível e almejado encontro.
Chega o momento em que ambos se aproximam, tecem um diálogo e essa senhora se identifica com o nome de Lina e declara que procura por seu filho que há anos não se encontram. Tivera informações que seu filho morava naquela cidade-Luzarina.
Agora aproximava a chegada na estação final. Todos os passageiros se preparam para o desembarque. Todos motivados em seus pensamentos, as conversas mantidas, o sono despertado. Cada um deixa sua poltrona e vislumbra lá fora um cenário não comum. Acontecera horas atrás uma exposição de artesanatos, e muitos ainda guardavam o material que não fora vendido.
De longe a D. Lina parece perceber a presença de um moço, cujas características eram as de seu filho, apesar de estar bem mais velho.
À medida que aproximava, aumentava a certeza. De repente, D. Lina ao receber o lindo sorriso do filho, é tomada por uma eletrizante emoção, corre em sua direção, precipitando-se nas escadarias da estação de alto a baixo. Estendida no solo, sem voz, rapidamente aproximam-se dela seu filho e o suposto amigo Júlio. É chamado com urgência o Serviço de Bombeiros. Os minutos que se seguiram foram como uma eternidade! O Serviço de Bombeiros após os primeiros socorros de praxe, levou D. Lina para o Serviço Médico mais próximo. Não havia mais muito a ser feito, D. Lina veio a falecer em face uma hemorragia interna. Júlio e Ulisses, o filho de D. Lina, puderam compartilhar solidariamente de suas experiências e tornaram-se grandes amigos. Seus dias seguintes foram de reflexões.
Assim é a vida: para muitos esta foi uma viagem usual. Para D. Lina foi a última viagem. À medida que os anos passam vamos tomando conhecimento do mundo e suas adversidades e também oportunidades.

Maria Loussa

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