O beduíno olhou o céu, o sol dardejava, era por volta do meio dia. O dromedário, sem sinal de sede ou cansaço, vencia a areia frouxa e destituída de vegetação. O horizonte era de uma mesmice irritante. Os olhos não tinham a trégua de uma réstia de verde, uma pausa sequer na claridade da luz do sol refletida na areia.
Ele percorria aquela vastidão monótona solitário e atento, procurando os sinais do oásis onde pretendia descansar.
Mas, o clarão do sol permanecia intenso e não havia o menor vestígio de verde diante dos seus olhos irritados pela poeira que o vento sacudia no seu rosto a todo instante.
Pensava, de longe em longe na mulher e nos filhos que ficaram na aldeia, aguardando a sua volta com dinheiro para pagar as contas e comprar alimentos.
Sentia sede, mas poupava o resto d água que levava no cantil. Tinham lhe dito que aquele era o caminho mais curto para chegar ao oásis, mas, pelo visto, apensar de ser o mais curto, ainda assim era longo o bastante para consdumir um dia inteiro de viagem.
Prosseguia na marcha, com a determinação de quem quer chegar, mas sem açodamento, pois no deserto a sobrevivência depende de muita força de vontade, paciência e conhecimento do rumo a ser seguido.
O sol, lentamente, começou a sua descida no sentido do poente. Sentiu um pouco de medo, pois percorrer o deserto á noite é muito arriscado, pois a pessoa pode perder-se naquelas vastidões e morrer de fome e de sede sem chegar a lugar algum.
Seus olhos, no entanto, brilharam de contentamento ao ver, ao longe, na linha do horizonte, uma mancha escura, diferente da brancura sem fim daquelas areias intermináveis.
"Tem que ser o oásis", pensou rapidamente. Mas, manteve a andadura. Quem quer chegar sabe que não pode ser sôfrego nem estucar o passo.
Mais cinco minutos e começou a divisar as palmeiras mais altas, a vegetação, o oásis tão desejado.
Era, sim, oásis. As tamareiras, o espelho d água, a possibilidade de repouso após tão extenuante jornada.
Lavou o rosto, encheu o cantil, deixou o animal beber o quanto necessitava e, cansado, caiu no sono.
Ao acordar, percebeu que fora roubado. O animal fora levado pelos salteadores e a preciosa mensagem que levava consigo.
Não se desesperou, entretanto, fez uma prece fervorosa para o Bom Alá. Tudo se resolveria a contento. Abriu a carteira e olhou demoradamente para as fotografias da mulher e dos filhos e lhes prometeu:
"Hei de chegar vivo e com o dinheiro".
Mal terminou de guardar a carteira de volta, viu o dromedário voltando lentamente.
Sorriu, olhou para o céu, e , feliz da vida, reencentou a caminhada.