Posava de intelectual. Sua conversa era temida pelo menos instruídos, pois costumava criticar acerbamente aqueles que, no colóquio diário, cometiam falhas e enganos.
Tirava e colocava os óculos enquanto estava falando, adquirndo gestos teatrais.
Falava alto para afugentar os mais ousados, qus buscavam esclarecimentos para suas dúvidas.
E mandava a indefectível frase:
Sugiro que consulte o "pater asinorum". E fechave-se num mutismo irritante e inteiramente absurdo.
Ano após ano, examinando os concorrentes ao concurso intelectual do bairro, era o examinador mais cruel nas notas e nos comentários, jamais perdoano qualquer engano, por menor que fosse:
"É uma atitude ao mesmo tempo propedêutica e profilática. Ensino os prolegômenos da redação e afasta, por meio de repulsão, os aventureiros que desejam escrever por escrever, sem a mínima vocação e sem o menor preparo". E soltava uma estrondosa e amedrontadora gargalhada.
Era conhecido como o professor. Corria a boca pequena que estudara na Inglaterra, daí o ar esnobe e o pescoço empinado de Lorde da Periferia, como alguns críticos costumavam lhe chamar.
Até que um belo dia, num simpósio de literatura, chamaram para vir dar uma palestra um conhecidíssimo escritor de fama nacional e internacional.
Colocaram na mesa, lado a lado, o Lorde da Periferia e o escritor famoso.
Não se sabe o que conversaram, nunca foi divulgado. Mas, em off, o escritor afirmou em alto e bom som, aquele calhorda? É um ignorante, mal sabe escrever um "o" com uma banda de côco, analfabeto de pai e mãe.
O pobre Lorde sumiu dali, jamais foi visto outra vez. Dizem por ali que ela foi em busca de outra comunidade ignorante, onde pudesse fazer valer a sua impostura e a sua pose de intelectual.